Gigante Amazônia

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Amazônia, uma palavra que quando se ouve perdem-se as proporções de dimensão e que faz tremer as pernas de emoção e ansiedade, será meu próximo desafio, de Manaus a Boa Vista, pedalar 784 km pela BR 174, um trecho em que ficarei mais tempo na estrada desde que saí do nordeste e com um detalhe, por conta própria e em meio a gigante floresta, a estrada que liga os estados do Amazonas e Roraima tem baixa densidade demográfica existindo somente pequenas cidades já próximo de Boa Vista.

Tendo os estudos do trajeto, a preparação, alimentação reforçada para que não se passasse necessidade de qualquer apoio, por conta disso, mais peso e mais carregada ficará a bicicleta, em torno de 6 kg ainda somado aos 6 litros de água, é extremamente importante levar água suficiente para 2 dias caso algum imprevisto venha ocorrer na estrada e seja necessário fazer um camping selvagem, no final a bicicleta deve ficar com 70 kg. O plano de pedal são de 7 dias, fazendo uma média de 115 km com as paradas em locais estratégicos.

Parada para almoçoSegunda-feira, 19 de julho, manhã de frio, atípica para a capital amazonense, uma frente fria incomum havia passado por todo o Brasil no final de semana anterior, provocando inusitadas baixas nas temperaturas de regiões quentes. Foi assim que sai de Manaus, com um fina garoa que caia das nuvens cinzas que pairavam sob o céu, uma tarefa difícil, o clima feio ao lado do enorme trânsito da capital indústria dificultou muito a vida, o barulho ensurdecedor dos carros, ônibus e caminhões, a poeira que é levantada, a fumaça carregada de CO2 e a baixa visibilidade aumentavam condicionalmente o nível de stress, eu corria para tentar entrar no ritmo dos automóveis e sair logo daquele caos.

Vestido com os óculos escuros para proteger os olhos da sujeira, enxergava pouco, ainda mais difícil pelas gotas de água que agarravam a lente. Em uma tentativa de limpeza e pedalando ao mesmo tempo, perco o equilíbrio da bicicleta quando a roda dianteira entra no desnível da sarjeta – em meio a chuva o asfalto estava com uma fina camada de água tornando-o escorregadio, o pneu fino da bicicleta não permite o atrito necessário, a minha falta de atenção e talvez irresponsabilidade me fazem levar a primeira queda de todos os 10 meses de viagem, apesar da forte pancada nas costelas, felizmente não foi nada grave, alguns minutos para refletir e volto o pedal, a única coisa que me passava na cabeça era sair daquele trânsito e poder respirar o verdadeiro ar amazônico.

25 quilômetros de sofrimento e respirando CO2, finalmente podia pedalar em paz, era o início da BR 174 – a Amazônia que tanto esperava, na paisagem árvores que ascendem aos céus tentando tocá-lo, com uma mistura de tonalidades de verde que define cada espécie – uma fina neblina compunha a copa das árvores e apesar da alta umidade no primeiro dia de pedalada estava com um clima muito agradável.


Pedalar no Amazonas é um verdadeiro encontro com os animais silvestres, especialmente pássaros das mais variadas cores, brilhos, formas e finos cantos, vão de andorinhas, tucanos, araras, gaviões, sejam eles pequenos, médios e/ou grandes, dominando os céus amazônicos, observando tudo de cima, eu os invejo, voar é para mim a maior sensação de liberdade, assistir tudo do alto, sentindo a brisa no rosto e corpo, plainando com toda a suavidade e destreza – viajar de bicicleta é como voar baixo, sentir os espaços a sua volta, perceber cada detalhe, seus cheiros e energia do local, integrando-se ao meio como um só organismo, silenciosamente, denunciado apenar pelo burburinho do pneu atritando no asfalto – a emoção toma conta do corpo, a endorfina que chega ao cérebro provoca sensações de intenso prazer, é uma droga que vicia.

O primeiro dia de pedalada é um longo tobogã, subindo e descendo, as ladeiras estão presentes por todo o caminho, um trecho que exige muito controle psicológico, não pode ter pressa, especialmente nas subidas onde a velocidade cai bruscamente e demanda mais energia do corpo, trabalhar com alto giro da marcha leve algumas vezes da a sensação de não sair do lugar – cada ladeira se transforma em uma conquista, a vista privilegiada do alto permitindo ver o horizonte e o caminho que nos guia, a descida merecida observando o entorno e respirando cadenciadamente para recuperar o fôlego e se preparar para mais uma subida.

A BR 174 não tem acostamento, portanto a segunda-feira de baixo movimento da tranqüilidade a pedalada com exceção das caçambas e automóveis particulares que andam em velocidades desumanas e transpõe um certo medo – o barulho com que eles passam é ensurdecedor e meio ao silêncio da floresta e o cantar dos pássaros.

O primeiro dia chegou ao fim com uma paisagem de grande nevoeiro presente na mata, com o verde esbranquiçado pela alta neblina – cidade das cachoeiras, Presidente Figueiredo, foram longos 136 km com muita subida, no GPS somaram 1500m de ascensão, me rendeu um início de dor no joelho até então nunca existente – Parada obrigatória por uns dias para conhecer as belezas da pequenina e simpática cidade, Cachoeira 4 Elementos, Santuário, Iracema, Natal, bóia cross, flutuação no rio e tree climbing foram os combustíveis para continuar a viagem, o contato com a natureza se tornava cada vez maior, agora sim estava definitivamente na Amazônia e posso sentir a sua magia que encanta os olhos de muitos estrangeiros que a conhecem, quando fala-se em Brasil é difícil não associar a essa gigante.

Vídeo Diário – Perrengue nos Lençóis Maranhenses

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Resumo: 

Esse vídeo resume o episódio dos relatos descrito abaixo. A saída dos Lençóis Maranhenses não aconteceu como se esperava, desde o início a dificuldade de chegar na praia foi muito grande. A região de mangue possui uma característica de solo bastante fofa, impedindo a pedalada, restando somente a opção de empurrar a bicicleta por aproximadamente 5,5km em duas horas, uma média muito baixa para uma viagem de bicicleta. O não conhecimento do trajeto subestimou a dificuldade dele, e rapidamente a falta de comida e a pouca reserva de água se tornaram agravante na viagem, causando a desistência do plano e restando somente voltar atrás, impedindo o cruzamento dos lençóis maranhenses. Em compensação pode-se apreciar a bela viagem de barco pelo rio preguiça a caminho da cidade de Barreirinhas.

Dia de extremos – Saída dos Lençois

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18/04/2010 – Na noite anterior comemos e dormirmos no restaurante, foi lá também que conhecemos um nativo da região, guia turístico, que nos informou que fizemos a maior cagada que poderíamos ter feito, ele nos informou que para cruzar os lençóis de onde estávamos tínhamos que vir beirando as dunas, seguindo a trilha das Toyotas, ali sim é possível pedalar até um determinado ponto e depois cortaríamos para a praia, foi só agora que veio me aparecer uma pessoa para me dar tal informação, depois de ter me acabado por completo naquele mangue, mas tudo bem, da próxima vez já sei, e para você que pretende cruzar os lençóis, não vá fazer a mesma coisa que eu, aproveita a dica e a experiência de alguém que passou o maior perrengue! rs

Passado tudo, acordamos em uma bela manhã de domingo, havia chovido na madrugada, então logo cedo esta um clima muito bom, ameno, sai para fotografar e poder apreciar a beleza dos Lençois Maranhenses, eu sentia uma magia sem explicação vinda daquele lugar – uma mistura de paisagens e cores, o mar, um campo de vegetação rasteira bem verde, as vezes cortado pelos igarapés de água doce vinda do infinito de dunas, formada por uma areia clara e moldada pelos suaves ventos e emolduradas com um fundo de mangue – tudo isso podemos dizer que é nosso, é do Brasil essa beleza única em todo o mundo.



Para o café da manhã, 3 tapiocas, 2 água de coco e o bom e velho cafezinho, perfeito, custou um total de R$ 18,00 somado com o jantar do dia anterior. Saímos sem pressa, aproveitamos o descanso até onde podia, era merecido. A partida se deu por volta das 9:00AM, e dessa vez, fomos pelo caminho certo. Apesar de pular aos montes cortando o mato, a trilha das Toyotas não é perfeitamente cicláveis, fato, porém, definitivamente, era mil vezes melhor do que empurrar a bicicleta naquela bendita areia que mais parecia movediça.

Chegamos no pé das dunas, lembrei da outra informação que o guia, que também anda de bike nos deu, com as chuvas a areia das dunas ficam duras e torna possível pedalar nelas, eu já tinha comprovado isso num role que fiz, a partir daí tive a brilhante idéia de subir a duna com a bike e seus 45 kg de excesso de peso, dar uma emoção a toda aquela beleza. Subimos, lá em cima, outra idéia, vamos dar um uso a essa prancha que a muito tempo não vê água, vamos fazer sandboard nos Lençois Maranhenses, em Jericoacoara eu me acabei fazendo.


Tudo pronto, Argus é o primeiro a descer, se prepara, se treme ao ver aquele pipeline de areia, cria coragem, impulsiona a prancha para a descida e vai, a emoção e adrenalina contagia, gritos de alegria se propagam em meio a imensidão de dunas, é muito rápido, no final tem o banho na lagoa de água natural das chuvas, límpida, transparente e fria pelas temperaturas amenas da época das chuvas, gritamos ao montes em estar fazendo tal astúcia, estávamos emocionados foi muito massa!

Chegada a minha vez, estava bem confiante, afinal não era a primeira vez que estava descendo uma duna de areia, me preparo, impulsiono e desço, na metade do caminho, olho pra frente, vejo o bico da prancha, minha mente em milésimos de segundos projeta a imagem de que eu iria embicar na areia, não tinha percebido antes, mas o pé da duna não tem curvatura significante, então impulsivamente e através do instinto do surf, bem ao final da duna me jogo antecipadamente e caio de lado na duna com a superfície rígida de areia molhada.

A pancada foi muito forte, parecia que tinha caído no chão, na hora eu senti que tinha me machucado feio, eu já tinha tomado uma porrada dessas, que acabou me causando 10 dias de hospital e 3 meses de recuperação devido a uma ferida infeccionada que tinha, na hora minha mente pareceu um furacão, pensando na besteira que tinha feito, inocente, aos poucos a dor ia passando, vou me levantando, mancando, só passava pela minha cabeça que a pancada não fosse além daquilo, que não se agravasse como da outra vez, pensava em minha casa, meus pais, mas não podia fazer nada, eu tinha que me virar sozinho e ainda tinha que pedalar aquele trecho de volta, pegar carona, praticamente impossível, estava no meio do nada.

Em dois dias vivi os maiores e opostos sentimentos de toda a viagem, a emoção de estar naquele lugar perfeito, a dor e lembrança de momentos difíceis. Pedalar não era difícil, em contrapartida colocar o pé no chão era um terror, ainda mais quando tive que empurrar a bicicleta na areia fofa, estava calado e ao mesmo tempo ensurdecido pelas vozes em minha cabeça, não parava de pensar, olhava pra frente e pensava em chegar onde tinha que chegar, tinha que ser guerreiro, suportar a dor.

Chegamos de volta a vila, ainda areia fofa, não tinha outro jeito além de empurrar a bicicleta e tentar segurar a onda. Em um bar, compro gelo para colocar na pancada e depois ficamos esperando o barco chegar para ir para barreirinhas, para minha infelicidade na vila não tinha farmácia, sem analgésico para mim, ficamos na frente da casa de Dadinho com os nativos, tentei dormir um pouco para descansar e ia me acostumando com a dor.


O barco chegou as 3:00PM, embarcamos, são 3 horas de viagem até barreirinhas de pura beleza, a viagem é exuberante, consigo relaxar bastante, é uma mistura de paisagem, pareço já estar na Amazônia – a paisagem é composta por uma densa floresta combinada com as dunas de areia, acompanhadas pelo tortuoso rio preguiça, algumas vilas de pescadores e ribeirinhos. Foram fascinantes horas de viagem.

Saio dos lençóis maranhenses e chego em barreirinhas, da tranqüilidade e paz para novamente a cidade movida a óleo diesel, iríamos ficar na casa de uma amiga de Argus, cheguei e fui logo na farmácia, em seguida fomos acomodar nossas coisas para sair para comer, acabamos encontrando coincidentemente Sérgio, que teve que vir fazer compras na cidade. Após o almoço/jantar hora de dormir.

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