Dia 2 – Fortaleza – Jericoacoara

Category : Diário

 17/12/2009 – Como dizem os cearenses, “ei macho, diabo é isso” de tanta muriçoca? A noite foi assim, mosquito que não acabava mais, e o mais impressionante é que elas são imunes a repelente o que tornou a noite ainda mais difícil no restaurante de beira de estrada, fato também é que vez e outra passava alguns caminhões fazendo tudo tremer, ou seja, dormir pra que? Nem queria mesmo, as 5:00h já estava de pé, as 5:30 fiz o café da manhã no próprio restaurante, pão com ovos e tapioca! Nhami!

Hora de partir, agradeci ao pessoal e “vamo que vamo”, pedalei de leve e mais a frente fiz uma parada para um alongamento mais completo, péssima mania que tenho de não me alongar, não repitam isso que eu faço crianças, se alonguem bastante. Feito, segue o pedal, por um trecho muito entediante, a paisagem constante do cerrado, baixa densidade demográfica, pedalei muito tempo sozinho, literalmente.

As 10:00AM, depois de 4 horas de pedal, pensava em procurar um lugar para comer, foi quando encontrei atividade humana na estrada, era um rapaz chamado “Galan” ou “Índio” foi como ele se apresentou, perguntei pra ele onde tinha um lugar para almoçar e ele me mostrou o povoado que morava, até lá fomos conversando, esclarecendo as curiosidades dele sobre uma viagem de bicicleta, após um tempo ele me ofereceu sua casa para descansar, foi perfeito, tinha uma rede lá e eu dormi que nem uma criança, acordei próximo do meio dia e fui almoçar com Galan a bela comida caseira com um garrafão de suco de Dona Lili.



Voltamos para casa e fiquei brincando com o sobrinho de Galan, muleke figura, criança é uma onda, gosto muito. Me faz lembrar minha sobrinha que está em Aracaju, Iris, que esse ano completa seus 4 anos. As 2:00PM era a hora de partida, o show não estava nada agradável, mas eu tinha que seguir, tomei um banho de roupa e tudo, fizemos uma foto de recordação e “simbora”.

Se eu achava a estrada antes já estava deserta, não imaginava o que tinha pela frente, uma completamente recente, construída para facilitar o acesso a Jericoacoara, ai sim foi total solidão e ainda por cima um pedal que não chegava nunca, após 1:30 de pedal sem parar, encontrei 2 casas de taipa e uma árvore com sombra que permitia sentar e fazer um lanche. Quando cheguei percebi que havia pessoas morando ali, foi então que apareceram na porta para ver quem parava por ali, aposto que nunca devia ter acontecido isso. Um senhor de lá seus 70 anos apareceu para conversar comigo, eu falei que estava indo para Itarema, e ele retrucou que nunca tinha ido pra lá e sempre teve vontade de conhecer, na hora eu refleti sobre a quantidade de pessoas que vivem nas mesmas condições, somente com suas famílias.

Me despedi e fui embora, pedalava, pedalava e não chegava, já somavam 100km no dia, já estava escuro, a noite tinha adentrado no Ceará, quando completei os 125km foi ai que vi sinal de civilização, um bar/restaurante, entrei correndo doido para tomar alguma coisa gelada. No bar tinha 3 rapazes bebendo, e curiosos puxaram conversa comigo, ri horrores com os figuras, fizemos uma foto de recordação e então parti para Itarema, foram mais 5km, passei na escolinha municipal para tentar dormir lá, mas não tive sucesso, como já era tarde, estava cansado, fui pra uma pousada que me custou R$ 13,00 com café da manhã, perfeito. Até amanhã.

Saindo de Fortaleza para Jericoacoara

Category : Diário

16/12/2009 – Dia para sair de Fortaleza, o despertador toca as 6:00, mas só levanto as 7:00, no dia anterior fui dormir consideravelmente tarde, ainda acordo com uma sensação de dúvida sobre a viagem, na verdade eu estava com medo, afinal nunca tinha viajado sozinho, mas ao ir arrumando as coisas comecei a pensar coisas boas e a ansiedade foi aumentando e criei coragem. As 8:00 estava com tudo pronto, era chegado o grande momento, comprei um garrafão de 5L de água enchi todas minhas garrafas, fui sacar dinheiro e dá-lhe pedal. Era só eu e Carmélia (minha bici) agora.

No caminho da saída de Fortaleza um ônibus com crianças enlouquecidas acenaram pra mim e interagimos bastante, ficamos um bom tempo lado a lado por conta dos constantes semáforos, isso me animou bastante, era como se eu fosse um super herói para eles, com aquela bicicleta toda entupida de sacolas e uma roupa pra lá de diferente e um capacete. Além do ônibus conversei com um senhor que também estava de bicicleta carregando seu filho na garupa de sua bici, esses são os verdadeiros ciclistas brasileiros.

Saio de Fortaleza e entro em Caucaia, mais a frente encontro uns guias que vendem os passeios para lagoas que ali existem, fico batendo papo com eles por um tempo, mas decidi seguir para lagoa do banana pois era caminho, já estava meio atrasado. É engraçado você conversar com as pessoas, dizer de onde você vem e depois falar que vai ficar 6 anos viajando, são variadas as expressões, é bem marcante. Depois de pegar algumas informações com os guias agradeci e mais pedal.

É interessante o espírito das pessoas que moram longe de cidades grandes, ao pedir informação a um senhor sobre a lagoa do banana ele me falou que se acontecesse alguma coisa, procurasse ele em sua casa, fiquei muito feliz, me fez perceber que eu nunca estou sozinho, agradeci e segui para a lagoa. Foi o momento para refrescar, tomar um refrigerante gelado, você não tem idéia como qualquer coisa gelada é um prêmio, principalmente tomar um banho de lagoa. As 11:00 parti e logo depois encontrei um restaurante de beira de estrada para comer, o PF sem carne custava R$ 4,00 foi esse mesmo que pedi, “com bastante feijão, por favor”. Após o almoço, “time to relax”, fui deitar nas famosas redes furadas que havia lido no livro de Rafael Limaverde, “Pelos Caminhos de Nuestra América”.

As 2:00 pm sai de lá, a intenção era chegar na Praia de Lagoinha, porém quando cheguei nos 95km, na cidade de Paraipaba, decidi ficar por lá, se fosse pra Lagoinha, o percurso seria por praia e estava receoso em ir dessa forma, então decidi seguir pela estrada, se desse problema, seria mais fácil conseguir carona. Em Paraipaba parei para tomar uma água de coco e perguntei para a moça um lugar para dormir, ela me ofereceu ficar ali mesmo, a noite tem vigia e ela poderia me emprestar uma rede, já que eu não tinha.

As 7:00 pm eu pude tomar banho e fui deitar um pouco. As 9:00 pm as meninas que trabalhavam no restaurante, precisavam pegar suas bicicletas para irem para casa, foi a parte mais engraçada do dia, todos os funcionários ficarem em volta de mim para ouvir minha história, parecia mais uma conferencia sobre cicloturismo e Felippe César, foi muito engraçado, me diverti bastante, após isso, fui fazer um lanche e bater um papo com o vigia e assim pude ir dormir!