Da Terra do Reggae à do Techno Brega – Vídeo

7

Category : Diário

21/04/2010 – Olá amigos, informo minha chego a Boa Vista – RR, após 780km de pedaladas pela Amazônia com muitas ladeiras, travessia de uma reserva indígena, dores no joelho, a primeira queda da viagem muito calor e chuva, apesar das dificuldades foi fantástico e muito gratificante toda a viagem.

Retomo as atualizações e publico mais um novo vídeo da viagem, este se trata do trecho de São Luis a Belém, o vídeo diário referente aos relatos anteriores. Uma viagem emocionante explorando uma cultura completamente diferente para mim, a dos escravos quilombolas que fugiram de São Luis. Além disso, piso pela primeira vez no estado Norte do país, o estado do Pará, região de pessoas hospitaleiras de rica cultura.

Alcântara, outro Mergulho na História Colonial

Category : Diário

20/04/2010 – Terça feira, partida de São Luis, a melhor rota para seguir para Belém é através da pequena cidade de Alcântara, é preciso pegar um barco de 3 horas de viagem que custa R$ 20,00, como era de ser esperar, mais uma vez tentaram me cobrar o transporte da Carmélia, negociação e tudo limpo, pude economizar alguns trocados. A viagem é legal, da para ter uma bela vista da cidade de São Luis e passa bem rápido com sorte você conseguirá ver também alguns botos nadando no rio.

A cidade de Alcântara foi refúgio de muitos escravos quilombolas, cidade histórica, faz parte do roteiro turístico de São Luis – com arquitetura completamente colonial, casas geminadas com o tradicional desenho na fachada de janelas, portas e as cores dando a identidade de cada morador. Possui uma praça central que abriga a bela ruína de uma igreja “Erguida antes de 1648 no local onde já havia existido uma capela construída pelo índio Maretin e uma igreja em homenagem a São Bartolomeu. Na virada do séc. XIX para o séc. XX já estava em ruínas e ameaçava desabar. Parte da igreja teria sido derrubada por ordem do escritor Sousândrade, que morava num casarão na praça e tinha sua vista da pasaigem atrapalhada pela torre.” (fonte: www.cidadeshistoricas.art.br data: 13/07/2010)



“Muitas são as causas apontadas para o declínio econômico em que Alcântara mergulhou no final do séc. XIX, para nunca mais se recuperar: abolição da escravatura, evolução de técnicas agrícolas, exploração excessiva do solo, recuperação do cultivo de algodão nos EUA após a Guerra de Secessão, fim da Companhia Geral de Comércio, lutas pela Indepêndencia do Brasil, maior facilidade no transporte da produção de outras áreas do país. Em 1896 a população se reduz a 4.000 habitantes, a Igreja Matriz está fechada e as plantações de algodão quase não existem mais.

As áreas das fazendas foram ocupadas pelos ex-escravos, que deram origem a muitos povoados ainda hoje existentes. O patrimônio histórico da cidade sofreu inúmeras baixas, desde o roubo de peças das casas por colecionares e moradores até confisco de peças da igreja pelo governo federal em 1889. Estes saques, aliados a um total descaso pelas construções, significaram a decadência definitiva para a memória de Alcântara.
O conjunto de sobrados que sobreviveram ao descaso e ao tempo, alguns com paredes de pedra e cal e ainda com fachadas revestidas por azulejos portugueses, foram tombadas pelo Iphan em 1948 como Patrimônio Nacional.” (fonte: www.cidadeshistoricas.art.br data: 13/07/2010)


Depois de conhecer a pequena cidade aproveitei também para passar no correio para enviar para meus pais uns postais que havia comprado, Argus também tinha que enviar uns documentos para sua casa. Após isso, seguimos para o almoço, já passara do meio dia, soubemos que na saída da cidade há dois restaurantes. Lá conheci um garoto chamado Igor, acredito ser parente da senhora que tomava conta do restaurante, perguntamos quantos anos ele tinha – 5 anos – ele nos responde, mas era perceptível que ele era mais velho do que afirmava, Argus pede então para ele mostrar nas mãos sua idade, ele mostra os 10 dedos e vimos que ele não sabia contar até dez, mais uma vez a questão da educação, nem preciso comentar mais nada, fato é que é deprimente ver coisas desse tipo.

Descansados do almoço seguimos para a estrada, eu estava mal com tudo que tinha acontecido, pareceu mais uma convenção de coisas erradas, estava no lugar errado na hora errada talvez, vai saber. Ao menos estava saindo daquele lugar, era a única coisa que passava na cabeça, a estrada é boa e extremamente bonita, uma mata fechada, a Amazônia já vem dando as boas vindas, como também as belas ararinhas, gritando feito loucas e sobrevoando nossas cabeças, isso me deixa muito feliz, em ver esses animais soltos, livre e talvez longe de ameaças, essa região do maranhão parece ser bem reservada, poucas pessoas passam por aqui, percebe-se isso por alguns trechos em que a mata praticamente invade a pista tomando de volta o que era dela.


Depois de algumas horas de viagem percebo que não estou sozinho, um louva-a-deus estava em cima da minha bolsa de guidão, passeando, curtindo, ele é um inseto considerado sagrado na cultura chinesa e segundo algumas crenças significa sorte, não poderia ficar mais feliz com aquele sinal, eram bons ventos surgindo, batizo-o então de Quimbó, devido a região em que me encontrava.

Cada vez mais que vou entrando na região algumas vilas vão surgindo, com a tipologia construtiva das casas de barro e a população praticamente negra. Quando ouvi falar dos quilombolas eu não tinha imaginado que era tão contrastante, parece que estou em outro país. A recepção da comunidade é sempre alegre e recíproca aos nossos cumprimentos, quase sempre nas casas que estão com o som ligado ouve-se o reggae music, muito bacana, um trajeto surpreendente do Brasil, nunca imaginara que havia um lugar assim.

As horas vão se passando e o dia chegando ao fim, era hora de começar a procurar algum lugar para passar a noite, em uma vila perguntamos qual era a cidade mais próxima e que tinha uma pousada, a informação era de que ficava a uns 40 km não conseguiríamos chegar lá antes do anoitecer, contudo seguimos adiante, pouco mais a frente em um trevo encontramos uma escolinha municipal, nem sempre é possível ser hospedado porque precisa da autorização do diretor, porém para nossa alegria a diretora estava morando na escolinha e trabalhando para que começasse a funcionar.


São Luis – A Jamaica Brasileira

3

Category : Diário

14/04/2010

Quarta-feira, estou em Barreirinhas, Maranhão – acordo as 6:00AM, a noite de sono foi ótima, depois de tudo que tinha passado, fui recompensado com uma boa cama, travesseiro, lençóis limpos e ar condicionado. Como sempre acordo mais cedo, sai para buscar algo para comer e dar uma volta pela cidade, a boa notícia é que a dor da perna já estava diminuindo, mas ainda continuava mancando.

Barreirinhas é uma cidade que tem como principal base econômica o turismo devido ser ponto de acesso aos lençóis maranhenses, muito parecido com Tutóia, só que bem mais bonita e organizada, também possui um grande número de Toyotas pelas ruas da cidades, vans que fazem o translado para São Luis, barcos e lanchas que fazem o passeio no rio preguiça. O principal meio de transporte da cidade é a motocicleta, sendo conduzida de crianças a idosos, a bicicleta ainda é um veículo bem utilizado, mas se percebe que é um uso em decadência pelo pouco incentivo, característica comum nas cidades de interior do Brasil, infelizmente.

Comprei algumas castanhas no mercadinho e fiquei sentado na calçada da rua principal da cidade observando o movimento de pessoas, especialmente da criançada que ia para a escola, lembro-me dos tempo em que estava nessa fase, acordar cedo, tomar banho, aulas de história, geografia, matemática, provas e todo o resto, de segunda a sexta, por 23 anos da minha vida e que moldou a pessoa que sou hoje.

Estudar é um negócio muito chato quando estamos fazendo, porém hoje percebo o quão importante é para formação de uma pessoa e como não é levada a sério no Brasil, principalmente os professores que recebem míseros salários e não ganham o real valor, um grave problema, pois são eles, depois dos pais, que vão ser criadores de formadores de opinião, eles têm a grande capacidade de ativar o senso crítico dos jovens e a partir daí multiplicar o numero de pessoas que em sua forma singular lutará para uma sociedade mais justa e equitativa.


O roteiro de hoje é chegar em São Luis, mas devido a minha lesão e somada a condição da estrada para a capital do estado – sem acostamento e o inúmero movimento de caminhões será feita de ônibus que custa R$ 24,00, em uma viagem de pouco mais de 3:00h. Não tivemos problemas para despachar as bicicletas, o motorista jogou o verde dizendo que precisávamos pagar R$ 10,00 por cada uma, mas com uma conversa ele relevou e teve a consideração por nós, é quase sempre assim, se você vacilar vai pagar sempre mais caro pelas coisas, então fica atento a essas jogadas e negocie, sempre.

Em São Luis Argus tem um contato que nos hospedou por alguns dias, é o Paulo Socha, ele mora no centro histórico da cidade e assim que chegamos na rodoviária seguimos para lá, fiquei impressionado com a beleza do centro – a arquitetura colonial ainda está muito presente, algumas tão velhas e quase caindo por não ter a devida conservação, edifícios com aparência de velho transmite uma história inimaginável, uma viagem transcendental ao passado. Também conhecida como cidade dos azulejos, a arquitetura do centro histórico é também caracterizada pelos revestimentos das fachadas com essa técnica, com origem de 5 mil a.C, foram levados para Europa pelos Árabes e difundido pelos portugueses, eram chamado dessa forma por conta que a primeira cor de tinta que se conseguia reproduzir era o azul turquesa, oriunda do cobalto, matéria prima facilmente encontrada na região.


São Luis é uma cidade que transpira cultura, é nela que tem o folclore do boi mais conhecido e famoso do Brasil, o bumba meu boi e ainda Tem Tambor de Crioula (dança de origem africana), Tambor de Mina (variação maranhense para o candomblé), entre outros. Portanto, talvez ainda o mais conhecido e que não pode esquecer é o reggae, que está presente em todos São Luisenses, é a chamada Jamaica brasileira, as mais famosas e a maior parte e das baladas de São Luis são com músicas de reggae, do tipo que dança colado, lento, com toda uma sensualidade, o lugar mais conhecido é o Chama Maré, deve-se conhecer. É evidente o orgulho que eles têm da sua cultura, e uma pena eu não estar presente nesse momento folclórico.

Apesar de toda essa beleza, foi em São Luis também que eu encontrei o pior tratamento até agora, nos comércios, restaurantes e no albergue que fiquei no último dia, não sei explicar qual o motivo, talvez pelo nível educacional do estado ser um dos mais baixos do país, não sei, fiquei achando que era uma opinião só minha, mas eu conheci outros turistas, coincidência ou não, tinham a mesma opinião que eu. Lamentável, uma cidade tão rica e que não possui pessoas preparadas e noções básicas de bom tratamento.

Minha estadia em São Luis foi a de menos tempo até agora, foram somente 6 dias, a falta de outro lugar para ficar e meu incomodo com o tratamento público de alguma forma me fizeram querer ir embora mais rápido, o próximo destino era Belém. Em São Luis eu também consegui a proeza de perder meu tênis quando passeava pela cidade após entrevista que forneci para a Rede Record, você pode ver abaixo.

Vídeo Diário – Perrengue nos Lençóis Maranhenses

Category : Diário

Resumo: 

Esse vídeo resume o episódio dos relatos descrito abaixo. A saída dos Lençóis Maranhenses não aconteceu como se esperava, desde o início a dificuldade de chegar na praia foi muito grande. A região de mangue possui uma característica de solo bastante fofa, impedindo a pedalada, restando somente a opção de empurrar a bicicleta por aproximadamente 5,5km em duas horas, uma média muito baixa para uma viagem de bicicleta. O não conhecimento do trajeto subestimou a dificuldade dele, e rapidamente a falta de comida e a pouca reserva de água se tornaram agravante na viagem, causando a desistência do plano e restando somente voltar atrás, impedindo o cruzamento dos lençóis maranhenses. Em compensação pode-se apreciar a bela viagem de barco pelo rio preguiça a caminho da cidade de Barreirinhas.

Dia de extremos – Saída dos Lençois

1

Category : Diário

18/04/2010 – Na noite anterior comemos e dormirmos no restaurante, foi lá também que conhecemos um nativo da região, guia turístico, que nos informou que fizemos a maior cagada que poderíamos ter feito, ele nos informou que para cruzar os lençóis de onde estávamos tínhamos que vir beirando as dunas, seguindo a trilha das Toyotas, ali sim é possível pedalar até um determinado ponto e depois cortaríamos para a praia, foi só agora que veio me aparecer uma pessoa para me dar tal informação, depois de ter me acabado por completo naquele mangue, mas tudo bem, da próxima vez já sei, e para você que pretende cruzar os lençóis, não vá fazer a mesma coisa que eu, aproveita a dica e a experiência de alguém que passou o maior perrengue! rs

Passado tudo, acordamos em uma bela manhã de domingo, havia chovido na madrugada, então logo cedo esta um clima muito bom, ameno, sai para fotografar e poder apreciar a beleza dos Lençois Maranhenses, eu sentia uma magia sem explicação vinda daquele lugar – uma mistura de paisagens e cores, o mar, um campo de vegetação rasteira bem verde, as vezes cortado pelos igarapés de água doce vinda do infinito de dunas, formada por uma areia clara e moldada pelos suaves ventos e emolduradas com um fundo de mangue – tudo isso podemos dizer que é nosso, é do Brasil essa beleza única em todo o mundo.



Para o café da manhã, 3 tapiocas, 2 água de coco e o bom e velho cafezinho, perfeito, custou um total de R$ 18,00 somado com o jantar do dia anterior. Saímos sem pressa, aproveitamos o descanso até onde podia, era merecido. A partida se deu por volta das 9:00AM, e dessa vez, fomos pelo caminho certo. Apesar de pular aos montes cortando o mato, a trilha das Toyotas não é perfeitamente cicláveis, fato, porém, definitivamente, era mil vezes melhor do que empurrar a bicicleta naquela bendita areia que mais parecia movediça.

Chegamos no pé das dunas, lembrei da outra informação que o guia, que também anda de bike nos deu, com as chuvas a areia das dunas ficam duras e torna possível pedalar nelas, eu já tinha comprovado isso num role que fiz, a partir daí tive a brilhante idéia de subir a duna com a bike e seus 45 kg de excesso de peso, dar uma emoção a toda aquela beleza. Subimos, lá em cima, outra idéia, vamos dar um uso a essa prancha que a muito tempo não vê água, vamos fazer sandboard nos Lençois Maranhenses, em Jericoacoara eu me acabei fazendo.


Tudo pronto, Argus é o primeiro a descer, se prepara, se treme ao ver aquele pipeline de areia, cria coragem, impulsiona a prancha para a descida e vai, a emoção e adrenalina contagia, gritos de alegria se propagam em meio a imensidão de dunas, é muito rápido, no final tem o banho na lagoa de água natural das chuvas, límpida, transparente e fria pelas temperaturas amenas da época das chuvas, gritamos ao montes em estar fazendo tal astúcia, estávamos emocionados foi muito massa!

Chegada a minha vez, estava bem confiante, afinal não era a primeira vez que estava descendo uma duna de areia, me preparo, impulsiono e desço, na metade do caminho, olho pra frente, vejo o bico da prancha, minha mente em milésimos de segundos projeta a imagem de que eu iria embicar na areia, não tinha percebido antes, mas o pé da duna não tem curvatura significante, então impulsivamente e através do instinto do surf, bem ao final da duna me jogo antecipadamente e caio de lado na duna com a superfície rígida de areia molhada.

A pancada foi muito forte, parecia que tinha caído no chão, na hora eu senti que tinha me machucado feio, eu já tinha tomado uma porrada dessas, que acabou me causando 10 dias de hospital e 3 meses de recuperação devido a uma ferida infeccionada que tinha, na hora minha mente pareceu um furacão, pensando na besteira que tinha feito, inocente, aos poucos a dor ia passando, vou me levantando, mancando, só passava pela minha cabeça que a pancada não fosse além daquilo, que não se agravasse como da outra vez, pensava em minha casa, meus pais, mas não podia fazer nada, eu tinha que me virar sozinho e ainda tinha que pedalar aquele trecho de volta, pegar carona, praticamente impossível, estava no meio do nada.

Em dois dias vivi os maiores e opostos sentimentos de toda a viagem, a emoção de estar naquele lugar perfeito, a dor e lembrança de momentos difíceis. Pedalar não era difícil, em contrapartida colocar o pé no chão era um terror, ainda mais quando tive que empurrar a bicicleta na areia fofa, estava calado e ao mesmo tempo ensurdecido pelas vozes em minha cabeça, não parava de pensar, olhava pra frente e pensava em chegar onde tinha que chegar, tinha que ser guerreiro, suportar a dor.

Chegamos de volta a vila, ainda areia fofa, não tinha outro jeito além de empurrar a bicicleta e tentar segurar a onda. Em um bar, compro gelo para colocar na pancada e depois ficamos esperando o barco chegar para ir para barreirinhas, para minha infelicidade na vila não tinha farmácia, sem analgésico para mim, ficamos na frente da casa de Dadinho com os nativos, tentei dormir um pouco para descansar e ia me acostumando com a dor.


O barco chegou as 3:00PM, embarcamos, são 3 horas de viagem até barreirinhas de pura beleza, a viagem é exuberante, consigo relaxar bastante, é uma mistura de paisagem, pareço já estar na Amazônia – a paisagem é composta por uma densa floresta combinada com as dunas de areia, acompanhadas pelo tortuoso rio preguiça, algumas vilas de pescadores e ribeirinhos. Foram fascinantes horas de viagem.

Saio dos lençóis maranhenses e chego em barreirinhas, da tranqüilidade e paz para novamente a cidade movida a óleo diesel, iríamos ficar na casa de uma amiga de Argus, cheguei e fui logo na farmácia, em seguida fomos acomodar nossas coisas para sair para comer, acabamos encontrando coincidentemente Sérgio, que teve que vir fazer compras na cidade. Após o almoço/jantar hora de dormir.

Deixe seu Cometário