14/04/2010
Quarta-feira, estou em Barreirinhas, Maranhão – acordo as 6:00AM, a noite de sono foi ótima, depois de tudo que tinha passado, fui recompensado com uma boa cama, travesseiro, lençóis limpos e ar condicionado. Como sempre acordo mais cedo, sai para buscar algo para comer e dar uma volta pela cidade, a boa notícia é que a dor da perna já estava diminuindo, mas ainda continuava mancando.

Barreirinhas é uma cidade que tem como principal base econômica o turismo devido ser ponto de acesso aos lençóis maranhenses, muito parecido com Tutóia, só que bem mais bonita e organizada, também possui um grande número de Toyotas pelas ruas da cidades, vans que fazem o translado para São Luis, barcos e lanchas que fazem o passeio no rio preguiça. O principal meio de transporte da cidade é a motocicleta, sendo conduzida de crianças a idosos, a bicicleta ainda é um veículo bem utilizado, mas se percebe que é um uso em decadência pelo pouco incentivo, característica comum nas cidades de interior do Brasil, infelizmente.
Comprei algumas castanhas no mercadinho e fiquei sentado na calçada da rua principal da cidade observando o movimento de pessoas, especialmente da criançada que ia para a escola, lembro-me dos tempo em que estava nessa fase, acordar cedo, tomar banho, aulas de história, geografia, matemática, provas e todo o resto, de segunda a sexta, por 23 anos da minha vida e que moldou a pessoa que sou hoje.
Estudar é um negócio muito chato quando estamos fazendo, porém hoje percebo o quão importante é para formação de uma pessoa e como não é levada a sério no Brasil, principalmente os professores que recebem míseros salários e não ganham o real valor, um grave problema, pois são eles, depois dos pais, que vão ser criadores de formadores de opinião, eles têm a grande capacidade de ativar o senso crítico dos jovens e a partir daí multiplicar o numero de pessoas que em sua forma singular lutará para uma sociedade mais justa e equitativa.


O roteiro de hoje é chegar em São Luis, mas devido a minha lesão e somada a condição da estrada para a capital do estado – sem acostamento e o inúmero movimento de caminhões será feita de ônibus que custa R$ 24,00, em uma viagem de pouco mais de 3:00h. Não tivemos problemas para despachar as bicicletas, o motorista jogou o verde dizendo que precisávamos pagar R$ 10,00 por cada uma, mas com uma conversa ele relevou e teve a consideração por nós, é quase sempre assim, se você vacilar vai pagar sempre mais caro pelas coisas, então fica atento a essas jogadas e negocie, sempre.
Em São Luis Argus tem um contato que nos hospedou por alguns dias, é o Paulo Socha, ele mora no centro histórico da cidade e assim que chegamos na rodoviária seguimos para lá, fiquei impressionado com a beleza do centro – a arquitetura colonial ainda está muito presente, algumas tão velhas e quase caindo por não ter a devida conservação, edifícios com aparência de velho transmite uma história inimaginável, uma viagem transcendental ao passado. Também conhecida como cidade dos azulejos, a arquitetura do centro histórico é também caracterizada pelos revestimentos das fachadas com essa técnica, com origem de 5 mil a.C, foram levados para Europa pelos Árabes e difundido pelos portugueses, eram chamado dessa forma por conta que a primeira cor de tinta que se conseguia reproduzir era o azul turquesa, oriunda do cobalto, matéria prima facilmente encontrada na região.


São Luis é uma cidade que transpira cultura, é nela que tem o folclore do boi mais conhecido e famoso do Brasil, o bumba meu boi e ainda Tem Tambor de Crioula (dança de origem africana), Tambor de Mina (variação maranhense para o candomblé), entre outros. Portanto, talvez ainda o mais conhecido e que não pode esquecer é o reggae, que está presente em todos São Luisenses, é a chamada Jamaica brasileira, as mais famosas e a maior parte e das baladas de São Luis são com músicas de reggae, do tipo que dança colado, lento, com toda uma sensualidade, o lugar mais conhecido é o Chama Maré, deve-se conhecer. É evidente o orgulho que eles têm da sua cultura, e uma pena eu não estar presente nesse momento folclórico.
Apesar de toda essa beleza, foi em São Luis também que eu encontrei o pior tratamento até agora, nos comércios, restaurantes e no albergue que fiquei no último dia, não sei explicar qual o motivo, talvez pelo nível educacional do estado ser um dos mais baixos do país, não sei, fiquei achando que era uma opinião só minha, mas eu conheci outros turistas, coincidência ou não, tinham a mesma opinião que eu. Lamentável, uma cidade tão rica e que não possui pessoas preparadas e noções básicas de bom tratamento.
Minha estadia em São Luis foi a de menos tempo até agora, foram somente 6 dias, a falta de outro lugar para ficar e meu incomodo com o tratamento público de alguma forma me fizeram querer ir embora mais rápido, o próximo destino era Belém. Em São Luis eu também consegui a proeza de perder meu tênis quando passeava pela cidade após entrevista que forneci para a Rede Record, você pode ver abaixo.
