Bem Vindo ao Pará

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Category : Diário

21/04/2010 – Dormir na escola foi tudo de bom, deu pra tomar banho de “tcheco” ou também conhecido como banho de cuia e ainda com direito a jantar e café da manhã, perfeito, melhor que isso não poderia ser – como forma de agradecimento fizemos uma doação à escola para ajudar nas despesas, fico na torcida para que as aulas voltem logo e as crianças a estudarem.

O planejamento do roteiro de hoje é chegar até Santa Helena, uma cidade ainda no estado Maranhão e mais desenvolvida que as demais, ir na rodoviária e pegar um ônibus até a Capanema, isso porque a partir de São Luis começam as chamadas entranhas maranhenses, com a presença de vários rios desaguando no mar, isso impede a existência de estradas litorâneas, havendo somente a BR 316 que liga São Luis a Belém, conseqüentemente o movimento de caminhões é intenso, e para piorar a situação do ciclista, não existe acostamento. Roteiros como esse eu começo a abrir mão, pois são regiões vetores de crescimento com devastação da floresta e não possui nenhum atrativo, não vale a pena correr o risco, e ainda ficar sujeito a poluição, barulho e stress da atenção no movimento de automóveis, fica a dica para você que pretende fazer uma cicloviagem.

Antes chegar a Santa Helena paramos na cidade Pinheiros, a 60km de onde dormimos, lá possui rodoviária e então decidimos ficar por lá. É muito legal passar por essas cidades do interior e ver a simplicidade da comunidade, ver as pessoas sentadas na porta de suas casas, passando o tempo, conversando, as crianças jogando bola na rua, mesmo debaixo de uma chuva que caia ao final de tarde – na cidade grande só é visto esse comportamento na periferia ou em bairros com uma população de maior faixa etária. Nas áreas mais centrais existe uma exclusão dos espaços públicos, as mães não deixam seus filhos brincar nas ruas, os automóveis na maioria das vezes são os vilões, pelo risco de acidentes. Aliado a esse fato entra a falta de investimento em praças, bosques e parques que provoca um aumento da procura pelos espaços privados, como shoppings.

Manhã do dia seguinte, as 8:00h saía o ônibus para Capanema, entrando no Pará, na região Norte do país e se despedindo do Nordeste. Na hora do embarque tivemos o maior problema para despachar as bicicletas, o funcionário da empresa causou a maior confusão dizendo que tínhamos que pagar, Argus tinha um cartão da federação de ciclismo de São Paulo que falava que o transporte de bicicleta não pode ser cobrado, como eu não tinha tal cartão, o carinha mudou o discurso e disse que eu tinha que pagar, sei que enchemos o saco dele e não pagamos – o ônibus era uma lata velha, sem ar condicionado e bancos velhos. A viagem durou em torno de 5 horas, no maior calor.

Assim que chegamos em Capanema – PA pedalamos em direção a cidade de Primavera, no site de Argus possui um espaço para cadastramento de escolas, um rapaz chamado Evandro, que conhecia seu projeto, havia cadastrado a escola em qual trabalha, portanto seguimos juntos até lá para fazer a atividade. O paraense é muito receptivo, de uma hospitalidade tamanha, já foi possível perceber logo em Capanema, muitas pessoas se aproximaram de nós para conversar e outros nos carros andavam devagar para fazer as clássicas perguntas foi muito bom sentir essa recepção.

O estado de Pará já predomina a floresta amazônica, portanto essa região o desmatamento é muito grande e desde a fronteira já percebe a predominância da madeira, principalmente nas construções, a tipologia construtiva das casas são na maioria com essa matéria prima. É comum ver madeireiras na beira da estrada, e praticamente todas as cidades possuem esse tipo de construção, ou seja, devastação total e como era de se esperar a pedalada não teria paisagem alguma. O mais interessante é que muitas dessas áreas desmatadas são utilizadas pela desculpa da pecuária, mas ao olhar o numero de animais no pasto é irrelevante, tudo não se passa de pretexto para derrubar as árvores e vender a madeira.

Chegamos em Primavera e fomos direto para escolinha, estávamos 30 min atrasados, mas felizmente conseguimos chegar a tempo, antes da saída das crianças, foi mais uma sensação indescritível, eram inúmeras crianças, curiosas, vendo aqueles dois malucos ou até mesmo, na cabeça deles, dois super heróis de bicicleta, ao final da atividade tirando foto com todos, um garotinho chega do meu lado e pede um autógrafo, aquilo foi uma surpresa pra mim, até então eu não tinha idéia que o significado para eles era tão grande, ao ponto de pedir uma assinatura minha, um pobre mortal que tem o sonho de dar a volta no mundo de bicicleta, e depois dele todos queriam autógrafos, foram alguns minutos escrevendo mensagens para a criançada, recepção melhor que essa impossível, foi ótimo, o sinal que Quimbó, meu mascote louva-a-deus trouxe se tornara realidade e mais fantástico é que ele ainda estava comigo já era o terceiro dia me acompanhando.