A BR-174 em Vídeo

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Category : Diário

Depois de ler os relatos da viagem de Manaus à Boa Vista via BR-174, confira agora em vídeo como foi a pedalada, as belezas encontradas e as dificuldade do trajeto.

Uma viagem de 780km pedalando pela Floresta Amazônica com transição para o lavrado no estado de Roraima. Foram um total de 9 dias de estrada, somado aos 7 dias que fiquei na cidade de Presidente Figueiredo para conhecer as belezas naturais da região. Ainda na viagem passei por uma grande dificuldade devido ao relevo bastante acidentado que provocou dores no joelho e me obrigou a ficar de repouso na Vila Jundiá por um dia e mais um dia na cidade de Rorainópolis. Confira no vídeo, compartilhe com seus amigos, e não esqueça de cadastrar seu e-mail para receber o diário de pedais.

Os 780km na BR-174 Amazônia

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Segundo dia de pedalada, estava um ótimo dia para seguir viagem, a presença da floresta deixa as manhãs com um clima ameno e uma leve e bonita neblina no ar. Para continuar com as condições do início da viagem mais ladeiras pelo próximos 30 km, depois suavizadas. A medida que chega próximo ao meio dia o calor aumenta insuportavelmente, por volta das 11:00 AM encontro uma pequena mercearia – uma simples construção de madeira que no final de semana provavelmente vira um reduto de bêbados, as latas de cervejas jogadas nos arredores da casa denuncia, sorte a minha em passar em uma segunda-feira,  perfeito para me proteger do sol e de lambuja tomar um refrescante banho – depois de descansar pego meu kit de cozinha para então fazer meu almoço, o cardápio, macarrão instantâneo com ervilhas, em seguida ateio minha boa e velha rede e tenho um merecido descanso, um tanto desconfortável devido ao intenso calor ambiente.

Dou continuidade a viagem lá pelas 3:00 PM, a ladeiras são suaves mas as retas infinitas, de perder o horizonte, como um gigante funil de laterais formadas por lagos com os típicos buritis, palmeiras que compõe a floresta amazônica, a sua presença denuncia a presença de água aos redores, geralmente eles estão localizadas em regiões alagadiças. Compondo a flora, inúmeras araras sobrevoam a região, amarelas, vermelhas e fui feliz em ver um casal de arara azul, uma raridade, pois atualmente está extinção, é um verdadeiro zoológico natural, onde a fauna está em seu habitat livre das cinzentas grades quadriculadas – um fato interessante é que as araras são animais extremamente fieis ao seu companheiro(a), ao encontrar o seu par, nunca mais se separam – minha felicidade maior estava ao ver os tucanos de bico branco, uma espécie que eu nunca havia visto pessoalmente, discretos, eles ficam muito escondidos em meio a mata, é preciso presta muita atenção – nesse momento já é final de tarde, vou chegando aos 110 km de trajeto e a parada que antecede a reserva indígena Waimiri-Atroari, a tão comentada e questionada travessia – me alojo no ultimo restaurante da pequena vila, batizo-o de miss simpatia – o dono é um homem com seus 50 e tantos anos, mal humorado e rancoroso salvo por uma senhora de pele enrugada que denuncia sua elevada idade e experiência de vida, sempre me trata com um leve e simpático sorriso no rosto que me faz lembrar dos meus avós.

Terceiro dia, a ansiedade tomava conta do meu corpo, esse era o grande dia, as especulações e o medo das pessoas a respeito da reserva tornou-a ainda mais mística – ouvi de tudo, que os índios iam me comer, que se me pegassem tirando foto iam quebrar minha câmera, se parasse ia ter encrenca, um pouco de tudo, enfim, as 7:30 AM estava cruzando o portão de entrada – a paisagem exuberante da floresta preservada encanta, logo no início um grande lago espelhando o céu azul daquele bonito dia com inúmeras palmeiras e ao fundo grandes árvores competindo para quem topa mais alto compõe o visual. (conheça mais sobre a história da reserva)

São 126 km, sem poder parar muito, no início eu até ficava meio preocupado com longas paradas, mas por volta dos 60 km meu joelho voltou a doer, conseqüências do primeiro dia de pedal, e me forçaram a parar um tempo na estrada para descansar, era só metade do caminho, o que me preocupava bastante – o bom da parada no meio do nada me permitiu curtir a natureza selvagem – o trecho da reserva é extremamente preservado, o gigante organismo tenta retomar o que lhe foi roubado, em alguns trechos as árvores invadem a pista mostrando quem tem o poder – era também possível ver alguns macacos saltando de galho em galho, inúmeras borboletas e pássaros com seus vôos caprichosos.

Sigo a pedalada por mais 30 km e uma nova pausa, dentro da reserva ainda existem ladeiras que exige muito do corpo e o joelho sofre bastante com elas, já estava no limite, mas como não passava nenhum carro tinha que continuar pedalando chegando ao ponto de usar uma perna só. Cheguei aos 116 km e finalmente consegui uma carona para me deixar no final da reserva – um caminhão baú atendeu meu pedido de socorro, o motorista do Paraná e o seu parceiro da Bahia que fumava cigarro e tomava cachaça, eles transportavam adubo para uma pequena cidade de Roraima – era por volta das 4:00 PM quando cheguei na Vila Jundiá, o outro lado da reserva, uma pedalada de extremos, a beleza e magia da reserva somada ao calor e a dor do corpo. Decidi ficar 1 dia em Jundiá para descansar o corpo e especialmente o joelho.

Após um dia de descanso no restaurante/lanchonete do bigode que fica posto de gasolina de Jundiá sigo o pedal, logo de cara vejo uma das paisagens mais bonitas da viagem, um lago que mais parecia um espelho, refletindo os buritis e o céu azul, capaz de enganar a mente através da fotografia, mais a frente um bando macacos brincavam nas árvores adjacentes a avenida e também araras sobrevoavam o céus, uma viagem onde a observação da fauna é um prato cheio e a torna encantadora.

Em pouco tempo chego a linha do equador, pela primeira vez estou saindo do hemisfério sul para o hemisfério norte, uma pena o local estar completamente destruído, todo pichado e mal conservado o Governo de Roraima parece não investir muito no turismo do estado, falta muita coisa. Voltando a estrada, mais a frente encontro um casal de franceses que também viajavam de bicicleta, com bikes muito simples e um trailer acoplado a uma delas que pesava uma “tonelada”, quando você acha que esta fazendo uma loucura, na estrada muitas vezes encontramos pessoas mais loucas que nós, viajando de formas surpreendentes, isso revela para mim que para fazer cicloturismo basta vontade não importa ter equipamentos top de linha e ultra modernos, eles podem ajudar é claro, mas não são obrigatórios, o que importa mesmo é o querer.

No quilômetro 60 do dia chego a Vila do Equador, depois dela, a 48 km tem a Vila Nova Colina, essa parte da estrada tem a pavimentação muito ruim e quando passam carros e caminhões levanta muita poeira, desde a reserva a estrada possui essas condições, a diferença vai ser só na densidade da floresta, em Roraima o desmatamento é muito alto, e quase sempre as margens da BR 174 possui grandes áreas destruídas, triste de se ver logo depois de cruzar a reserva indígena, um contraste assombroso – a paisagem é de um descampado com vestígios de queimadas que deixaram somente a base do tronco das árvores, um assassinato a floresta que até hoje ainda sofre com a ganância do ser humano pelo dinheiro, o valor da madeira é muito alto e a fiscalização é ineficiente em meio as dimensões da floresta.

Quinto dia, pedal leve, saio da Vila Nova Colina em direção a Rorainópolis a 40 km de distância, decidi ficar um dia de repouso para me alimentar melhor e recuperar as energias no conforto de um quarto e uma cama, fiquei em uma pousada baratinha que custou R$ 35,00 por 2 pernoites. Rorainópolis é a segunda maior cidade depois de Boa Vista, um tanto desorganizada com problemas de saneamento básico e moto pra todo lado, a motorização das cidades do interior são cada vez mais rápidas.

Domingo, 01 de Agosto, as 5:00 AM já estou na ainda escura estrada, sem sinal do sol e a medida que ele vai aparecendo é possível ver a neblina sob a floresta, que da forma aos raios solares que percorrem entre as árvores, o silêncio só é quebrado pelos cantar do acordar dos pássaros, a temperatura amena da manhã deixa o clima muito agradável – o dia será longo, o plano é pedalar aproximados 160 km até a cidade de Caracaraí, bem próximo de Boa Vista, 130 km, é o penúltimo dia de viagem.

Chego na chamada bola do 500, faço um lanche pois daqui pra frente, pelos próximos 80 km, não existe nenhum apoio e tinha que puxar o pedal. A medida que a hora vai passando o calor também vai aumentando – as infinitas retas são grandes armadilhas psicológicas, olha-se para frente e o infinito da estrada parece não levar a lugar nenhum – a floresta amazônica está bem ao fundo, o desmatamento e a transição da vegetação para o lavrado diminui consideravelmente sua densidade e torna o clima seco, me fazendo implorar por uma chuva.

Pedalei 120 km, a manhã inteira e o início da tarde, até as 1:00 PM quando finalmente encontrei um apoio em um restaurante de beira de estrada, refeição reforçada e descanso merecido para  agüentar mais 40 km e chegar no destino planejado, Caracaraí. No meio da tarde volto a estrada com a tão desejada chuva, que cai fina e alivia o calor da estrada, em pouco tempo estou atravessando a ponte que cruza o Rio Branco e chego ao ponto final, o dia foi muito longo e analisando calmamente pareceu uma eternidade.

Sétimo e último dia de viagem, já estou no lavrado, a estrada que me leva à Boa Vista é nova e perfeita para pedalar, por outro lado o movimento de veículos também é um pouco maior – os grandes campos é a paisagem principal com algumas montanhas espaçadas e pontuais ao fundo, o relevo é praticamente plano com a maior parte das subidas leves. A animação da chegada é enorme, aconteceram muitas coisas até chegar aqui, as infinitas ladeiras da saída de Manaus, cachoeiras de Pres. Figueiredo, reserva indígena, dores no joelho, a abundante fauna da Amazônia entre outros, foram 7 dias emocionantes que só foram possíveis viver em cima de uma bicicleta, pedalando lentamente e desfrutando do mínimos detalhes. Agora chegada a hora de descansar e depois seguir para a próxima etapa, ir para a Venezuela e conquistar o Monte Roraima.

Gigante Amazônia

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Amazônia, uma palavra que quando se ouve perdem-se as proporções de dimensão e que faz tremer as pernas de emoção e ansiedade, será meu próximo desafio, de Manaus a Boa Vista, pedalar 784 km pela BR 174, um trecho em que ficarei mais tempo na estrada desde que saí do nordeste e com um detalhe, por conta própria e em meio a gigante floresta, a estrada que liga os estados do Amazonas e Roraima tem baixa densidade demográfica existindo somente pequenas cidades já próximo de Boa Vista.

Tendo os estudos do trajeto, a preparação, alimentação reforçada para que não se passasse necessidade de qualquer apoio, por conta disso, mais peso e mais carregada ficará a bicicleta, em torno de 6 kg ainda somado aos 6 litros de água, é extremamente importante levar água suficiente para 2 dias caso algum imprevisto venha ocorrer na estrada e seja necessário fazer um camping selvagem, no final a bicicleta deve ficar com 70 kg. O plano de pedal são de 7 dias, fazendo uma média de 115 km com as paradas em locais estratégicos.

Parada para almoçoSegunda-feira, 19 de julho, manhã de frio, atípica para a capital amazonense, uma frente fria incomum havia passado por todo o Brasil no final de semana anterior, provocando inusitadas baixas nas temperaturas de regiões quentes. Foi assim que sai de Manaus, com um fina garoa que caia das nuvens cinzas que pairavam sob o céu, uma tarefa difícil, o clima feio ao lado do enorme trânsito da capital indústria dificultou muito a vida, o barulho ensurdecedor dos carros, ônibus e caminhões, a poeira que é levantada, a fumaça carregada de CO2 e a baixa visibilidade aumentavam condicionalmente o nível de stress, eu corria para tentar entrar no ritmo dos automóveis e sair logo daquele caos.

Vestido com os óculos escuros para proteger os olhos da sujeira, enxergava pouco, ainda mais difícil pelas gotas de água que agarravam a lente. Em uma tentativa de limpeza e pedalando ao mesmo tempo, perco o equilíbrio da bicicleta quando a roda dianteira entra no desnível da sarjeta – em meio a chuva o asfalto estava com uma fina camada de água tornando-o escorregadio, o pneu fino da bicicleta não permite o atrito necessário, a minha falta de atenção e talvez irresponsabilidade me fazem levar a primeira queda de todos os 10 meses de viagem, apesar da forte pancada nas costelas, felizmente não foi nada grave, alguns minutos para refletir e volto o pedal, a única coisa que me passava na cabeça era sair daquele trânsito e poder respirar o verdadeiro ar amazônico.

25 quilômetros de sofrimento e respirando CO2, finalmente podia pedalar em paz, era o início da BR 174 – a Amazônia que tanto esperava, na paisagem árvores que ascendem aos céus tentando tocá-lo, com uma mistura de tonalidades de verde que define cada espécie – uma fina neblina compunha a copa das árvores e apesar da alta umidade no primeiro dia de pedalada estava com um clima muito agradável.


Pedalar no Amazonas é um verdadeiro encontro com os animais silvestres, especialmente pássaros das mais variadas cores, brilhos, formas e finos cantos, vão de andorinhas, tucanos, araras, gaviões, sejam eles pequenos, médios e/ou grandes, dominando os céus amazônicos, observando tudo de cima, eu os invejo, voar é para mim a maior sensação de liberdade, assistir tudo do alto, sentindo a brisa no rosto e corpo, plainando com toda a suavidade e destreza – viajar de bicicleta é como voar baixo, sentir os espaços a sua volta, perceber cada detalhe, seus cheiros e energia do local, integrando-se ao meio como um só organismo, silenciosamente, denunciado apenar pelo burburinho do pneu atritando no asfalto – a emoção toma conta do corpo, a endorfina que chega ao cérebro provoca sensações de intenso prazer, é uma droga que vicia.

O primeiro dia de pedalada é um longo tobogã, subindo e descendo, as ladeiras estão presentes por todo o caminho, um trecho que exige muito controle psicológico, não pode ter pressa, especialmente nas subidas onde a velocidade cai bruscamente e demanda mais energia do corpo, trabalhar com alto giro da marcha leve algumas vezes da a sensação de não sair do lugar – cada ladeira se transforma em uma conquista, a vista privilegiada do alto permitindo ver o horizonte e o caminho que nos guia, a descida merecida observando o entorno e respirando cadenciadamente para recuperar o fôlego e se preparar para mais uma subida.

A BR 174 não tem acostamento, portanto a segunda-feira de baixo movimento da tranqüilidade a pedalada com exceção das caçambas e automóveis particulares que andam em velocidades desumanas e transpõe um certo medo – o barulho com que eles passam é ensurdecedor e meio ao silêncio da floresta e o cantar dos pássaros.

O primeiro dia chegou ao fim com uma paisagem de grande nevoeiro presente na mata, com o verde esbranquiçado pela alta neblina – cidade das cachoeiras, Presidente Figueiredo, foram longos 136 km com muita subida, no GPS somaram 1500m de ascensão, me rendeu um início de dor no joelho até então nunca existente – Parada obrigatória por uns dias para conhecer as belezas da pequenina e simpática cidade, Cachoeira 4 Elementos, Santuário, Iracema, Natal, bóia cross, flutuação no rio e tree climbing foram os combustíveis para continuar a viagem, o contato com a natureza se tornava cada vez maior, agora sim estava definitivamente na Amazônia e posso sentir a sua magia que encanta os olhos de muitos estrangeiros que a conhecem, quando fala-se em Brasil é difícil não associar a essa gigante.

Uma metrópole no Amazonas

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04/05/2010 – 19/07/2010 – Cheguei em Manaus em plena semana do meio ambiente, as discussões sobre sustentabilidade estavam a tona, mas de fato o que nós e o governo estamos fazendo para reverter os atuais panoramas? Falar em sustentabilidade não deve ser considerada somente nas dimensões MEGA, mas também na MICRO, nas pequenas atitudes do dia a dia, que interferem significativamente no meio ambiente, água, lixo, energia, transporte, alimentação, consumo estão ao nosso alcance de forma bastante simples, porém por comodismo ou talvez preguiça, não tomamos partido para nada, uma atitude um tanto egoísta que deixa o problema para gerações futuras, nossos filhos, netos, bis netos e adiante – Falamos em salvar o planeta, uma frase, em minha opinião, equivocada, o planeta ficará onde está, já a raça humana? Quem garante?

Manaus apesar de estar no centro da Amazônia teve toda sua flora dizimada e a fauna afugentada, é uma selva de pedra no meio da floresta, uma metrópole que produz grande parte dos bens de consumo do Brasil, por outro lado, não produz quase nada quando se fala em frutas ou alimentos, com exceção apenas às pertencentes da região, no mais, é quase tudo importado.

História

A história de Manaus inicia-se entre os anos de 1580 a 1640 com a exploração pelos portugueses no chamado vale amazônico, com eles vieram também a destruição da cultura local e escravização indígena. Após o período inicial de colonização, a capital da Amazônia, assim como Belém – PA, teve no final do século XIX seu apogeu com o ciclo da borracha, com ele vieram também grandes investimentos, “a cidade ganhou o serviço de transporte coletivo de bondes elétricos, telefonia, eletricidade e água encanada, além de um porto flutuante, que passou a receber navios dos mais variados calados e de diversas bandeiras. (fonte: http://wikipedia.org data: 26/10/2010)

O auge do ciclo econômico em Manaus a colocou em um patamar privilegiado no panorama nacional, equivalente ao Rio de Janeiro, a então capital federal. Edifícios como o teatro amazonas simbolizavam o seu potencial para o mundo. Acompanhado dele, surge a primeira universidade do Brasil e também a implementação dos bondes elétricos, sendo a segunda cidade a fazer tal investimento. Com o rápido fim da era da borracha no Amazonas, Manaus entra em decadência rapidamente e somente em 1960, com a implantação da zona franca, que ela volta a se reerguer e ocupa espaço importante na economia brasileira.

Dias em Manaus

Meus dias em Manaus se resumiram em muito trabalho, o site estava bastante desatualizado e definitivamente eu precisava parar para trabalhar. Tudo isso se deu graças a hospitalidade de João Paulo Martins, definitivamente sem a ajuda dele não seria fácil, em sua casa eu encontrei um ambiente que inspirasse produção, basicamente acordava e dormia na frente do computador.

Houveram também outras pessoas importantes nos dias que passei em Manaus, Kayo, também cicloturista, me recebeu em sua casa por alguns dias e me passou todo o roteiro da BR-174, ele pode ser considerado um expert nesse trajeto, já fez 3 viagens pelo Amazonas e Roraima. Era o meu próximo pedal, desbravando a floresta amazônica e sua transição para o lavrado.

Em Manaus existe um grupo que está lutando para que sejam feito investimentos focados no uso da bicicleta como meio de transporte, é o Pedala Manaus, organizador da pedalada ambiental. Frente a ele está o Ricardo Braga, ou como prefere ser chamado, o Saci. Um dia, estávamos conversando e decidimos fazer o I Desafio Intermodal Manaus(assista o vídeo), aproveitando o gancho da Semana de Meio Ambiente, infelizmente não tivemos o apoio da mídia devido a copa do mundo, a programação era exclusivamente sobre futebol e mais uma vez a bicicleta ficou para segundo plano. Apesar de tudo, não impediu que realizássemos e produzíssemos o registro desse grande momento.

Foram pouco mais de dois meses em Manaus, a cidade, na minha opinião, é um caos, mas existem belos lugares para visitar dentre eles o Teatro Amazonas juntamente com o largo São Sebastião lugar que originou a paginação de piso em pedra portuguesa representando o encontro dos rios, Negro e Amazonas, porém foi conhecido e consagrado pelo calçadão de Copacabana. Não deve deixar de ir também ao Bosque da Ciência – INPA, Museu do Seringal – Vila Paraíso, Jardim Botânico, centro da cidade e cidades vizinhas como Novo Airão.

Para saber da programação cultural de Manaus aqui segue algumas dicas de sites.

http://www.bv.am.gov.br/
http://www.culturamazonas.am.gov.br/
http://portalamazonia.globo.com/
http://www.manaus.am.gov.br/
http://portalamazonia.globo.com/
http://www.manausmais.com.br/

Bem Vindo Amazônia

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22/05/2010 – Batizada com o mesmo nome de uma cidade de Portugal, Santarém do Pará é também conhecida como a “Pérola do Tapajó”, pequena e simpática foi também palco do ciclo da borracha e é a segunda maior cidade do estado. Sua estrutura me assustou um pouco pelo número de motocicletas existentes, a cidade é movida por duas rodas motorizadas, com um número de mulheres bastante expressivo na direção, progresso? Até onde?

Santarém se deve especialmente por uma pessoa, Juliane, integrante do dez por horas, foi quem me ofereceu suporte e um calor familiar, sua mãe Julia, irmão Carlinhos e seu pai João me abraçaram e confortaram a minha saudade de casa, são momentos essenciais na minha vida nômade. Existem também duas pessoas que não pode esquecer, Eliene e Endriny, cunhada e sobrinha de Juliane, foram figuras de muitas risadas e brincadeiras especialmente pela ilustre Endriny e sua fase dos “porquês” que me lembra minha sobrinha que cada dia cresce mais.

Depois de alguns dias segui para a famosa Alter do Chão, conhecida como o “caribe brasileiro”, todos me falavam que deveria conhecer, o mais engraçado foi acostumar com a idéia de “praia” – como assim? Não é um rio? – Sim, praia de rio! – pra mim, praia é de água salgada e geralmente tem onda. – as diferenças culturais vão se tornando cada vez mais forte.

Na estrada, a 5km de Alter do chão, paro para observar uma aula bem diferente e em um ambiente inusitado, do qual não estou acostumado, no meio da floresta e embaixo de uma palhoça, posteriormente fiquei sabendo que ali funciona a escola da selva onde é dada aulas de conscientização do meio ambiente. Enquanto observava e escutava atentamente as palavras do professor, um ciclo viajante vem subindo a ladeira e se aproximando, era o Flipper – aparentando ter mais de 40 anos, tinha sua pele bastante queimada do sol e não parecia se preocupar ou se proteger dele, sua bicicleta marrom da cor do barro e ferrugem que a encobria parecia muito mal tratada e não via a um bom tempo uma revisão, mas uma coisa era certa e evidente, o Flipper encontrou na bicicleta a liberdade e felicidade, além de não parecer que ia parar tão cedo de viajar sobre duas rodas, ele me contou que estava viajando a 6 anos já e conhecia boa parte do Brasil e alguns países da América do sul, nos despedimos e aprendo a lição de força de vontade de um guerreiro.

Logo que cheguei, fui direto para a praia, de rio, ficar flutuando no tapajós enquanto dava a hora de fazer o bate papo com a criançada do ponto de cultura, uma escola muito legal que ensina muito para as crianças sobre meio ambiente e a sua preservação, afinal de contas a região é extremamente propícia, a rica Amazônia sofre constantemente com o desmatamento e exploração insustentável de seus recursos.

A pequena cidade de Alter do Chão é muito simpática, bastante simples, de pessoas acolhedoras e com uma beleza natural exuberante, tendo o rio tapajós como o seu principal protagonista – a bacia de rio da a forma sinuosa da paisagem e torna as águas calmas, refletindo em sua superfície a beleza da natureza – os pequenos barcos de pescadores compões não só a cultura local mas refletem a simplicidade de viver do rio – o calçadão com os desenhos do muiraquitã remetem a cultura amazônica, dos nossos índios, este é um símbolo do Amazonas, sentir esses lugares é sentir um Brasil diferente de tudo, uma cultura riquíssima que da aquela inveja boa!

“Conforme o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, as índias icamiabas, mulheres guerreiras que habitavam o baixo Amazonas, ofertavam o muiraquitã aos índios da tribo mais próxima, os guacaris, depois do acasalamento, na Festa de Iaci, divindade-mãe do muiraquitã. A mística do presente oferecido aos índios visava a encorajar a fidelidade a elas e para que, ao exibirem-no, fossem respeitados, pois presentear um índio com um muiraquitã representava o ato sexual consumado entre uma Icamiaba e um índio. As icamiabas compunham uma sociedade rigorosamente matriarcal e se dessa união nascessem filhos masculinos, estes seriam sacrificados, deixando sobreviver somente os de sexo feminino.” (fonte: pt.wikipedia.org/ data: 20/09/2010)

No dia seguinte parti para a cidade de Belterra, por uma estrada de terra a pouco mais de 30km de Alter do chão, uma das cidades berço da era da borracha, localizada em “… uma planície elevada às margens do Rio Tapajós, coberta por densa floresta. A essa área a companhia Ford chamou de ‘Bela Terra’, que depois passou a ser chamada de ‘Belterra’. A partir daí, o projeto começava a se tornar realidade, e Belterra ficou conhecida como “a cidade americana no coração da Amazônia”.” (fonte: pt.wikipedia.org/ data: 20/09/2010)

A cidade é literalmente uma viagem em uma cultura completamente diferente do Brasil, muito charmosa e cheia de história – de fato parece uma viagem em um antigo filme americano, com as ruas de pedra, casas de madeira e a típica varanda frontal, e até hidrantes na calçada existe. Quem me guiou na cidade foi Mônica e a criançada do Telecentro, o passeio não poderia ser em outro veículo, fomos todos de bicicleta pela cidade, pedalando, brincando, contando histórias e aprendendo uns com os outros.

No dia seguinte tive que retornar para Alter do chão e depois para Santarém, e infelizmente não consegui chegar até a flona do Tapajós para conhecer as gigantes sumaúmas, uma árvore de tronco largo e que pode chegar até 70 metros de altura, a maior ou uma das maiores da nossa flora, esse é um passeio que definitivamente deve-se fazer.  De volta a Santarém fico mais uns dias e depois sigo para Manaus, novamente de Barco – esses dias foram de muito aprendizado sobre a natureza, história do Brasil e o ciclo da borracha e seus os impactos humanos.