05/04/2010 – No dia anterior dormimos em uma pousada pouco antes de Tutóia – bem simples e de boa dormida, nós conseguimos negociar um jantar e um café da manhã, e apesar de ter feito sem toda aquela boa vontade, estava gostoso – dormimos os três, eu, Argus e Leandro em um mesmo quarto para baratear o custo que ficou ao final, somado as refeições, R$ 50,00.
Arrumamos as bicicletas e seguimos para Tutóia, de lá pegaríamos finalmente a praia para ir até os lençóis maranhenses, pedalar pela praia é sempre muito bom, escutar o pneu atritando com a areia, o canto das ondas do mar, observar o vôo dos pássaros, os pescadores recolhendo suas redes de sustento – viver sem o mar é também para mim uma da tarefa muito difícil, e sabia agora que depois do maranhão os trechos de praia iriam acabar.
Chegamos em Tutóia e, bem vindo ao Caos – a cidade é ponto de acesso aos lençóis maranhenses, daqui saem todos os dias vários carros Toyota 4×4 a caminho do parque provocando todo o tumulto e o imenso cheiro de óleo diesel na praça principal, onde eles ficam estacionados – eu não tenho nada contra o turismo, mas isso é uma conseqüência dele acompanhado da falta de políticas de controle, ainda mais agravante por ser no estado do Maranhão.
Turismo Predatório
Certa vez estava lendo o livro Pelos Caminhos de Nuestra América de Rafael Limaverde, e em uma passagem ele conta sobre um determinado passeio turístico e a invasão que provoca-se ao chegar às pequenas comunidades, as pessoas vão sacando todas as câmeras fotográficas, invadindo a privacidade dos nativos, sem dar ao menos um oi, e eles ainda tem que tolerar essas atitudes que já são rotineiras, de centenas de pessoas que passam por ali todos os dias, todos os anos.
Isso me fez pensar bastante sobre como aquela cidade foi transformada, movimentou e ainda movimenta muito dinheiro, portanto continua com baixa infraestrutura urbana. Para reverter esse quadro é de extrema importância que todas as ações sejam planejadas e que o turismo seja equitativo ao aumento da qualidade de vida da população, nós fazemos parte disso, hoje vemos inúmeras agências com o prefixo Eco em seus nomes, mas de fato quais que realmente fazem valer seu nome e que merecem nosso dinheiro?
Pedalar pela Praia
Meio agoniado a todo aquele barulho paramos somente para comprar umas bananas (R$ 2,00) e esperar Leandro consultar na rodoviária o horário do ônibus de volta para Parnaíba, era nossa despedida, depois de partilhar bons momentos e troca de experiências. Seguimos para a praia, ao contrário da cidade, é linda e por ser dia de semana estava muito tranqüila – preparativos para mudança de terreno: passar bastante protetor solar, trocar o capacete pelo chapéu, o tênis pelo chinelo e hidratação com uma bela água de coco (R$ 1,50) – Já passam das 10:00 AM, nos despedimos de Leandro e seguimos.
Voltar a pedalar pela praia é uma sensação ótima, só curtição, a paisagem já é outra, com um horizonte de dunas, os chamados pequenos lençóis, barracões de pescadores a beira mar. Após duas horas de pedalada chegamos o um memorial de raízes de mangue – parecem brotar da areia da praia, cada uma delas com sua identidade de forma, é um infinito delas, a imagem se perde meio ao horizonte, difícil dizer quando se acabará, entramos em outra dimensão, essa talvez seja a palavra que se enquadra, da surrealidade da presente paisagem – o tempo e a imaginação se perde meio ao resquício de mangue.
Paulino Neves
Chegamos no rio, de longe avisto um barco, vou correndo com a bandeira do Brasil fixada a uma haste de bambu acenando para eles, me passou logo pela cabeça, se não conseguimos atravessar agora, vamos ficar plantados aqui um bom tempo esperando outra oportunidade, esse é um dos imprevistos de se viajar pela praia, os constantes rios que deságuam no mar. Um certeza existe, onde tem rio, tem pescador, a dica é levar alguns pistolões (fogos de artifício) para sinalizar a chegada a margem e esperar alguém vir buscar, porém nesse caso nós não o tínhamos, contávamos com a sorte e felizmente ela estava do nosso lado, ufa!
No barco estava o Sr. Alfredo, dono do barco e pescador toda vida, com seus dois amigos que ajudam na pescaria, que no dia rendeu um cardume de arraias. Agora era só relaxar, curtir a paisagem do rio e o barco a andar com a força do vento. Chegamos a um povoado chamado Paulino Neves e Alfredo nos convidou para almoçar, compramos umas cervejinhas como forma de agradecimento e também para dar de presente do que para nós em si. Em seguida ficamos lá descansando na rede e contemplando a beleza da localização da casa do Sr. Alfredo, na beira do rio, com plantação de frutas e hortaliças, sem estrada e tampouco movimento de automóveis, somente pessoas na vila, um lugar perfeito e muito tranquilo.
Cogitamos em dormir por lá mesmo, mas achamos melhor seguir, ainda tinha muito dia pela frente, ao menos foi essa a intenção, logo que saímos da casa de Alfredo um areal, que nos levou a empurrar a bicicleta, segundo informações que nos fora dada, a praia estava a 3km, ou seja, pertinho, mas novamente caímos na informação da falta de noção – pegue os 3km e multiplique por 4 ou 5, some a uma escolha de caminho errado e bufo, acabou o dia, felizmente paramos em um lugar com uma simpática casa no meio do nada com pessoas que nos permitiram armar nossas redes em um palheiro no quintal da casa.
Para o jantar fui catando tudo o que eu tinha na bagagem, eu estava desacostumado a comprar comida por que ultimamente não estava sendo necessário, para felicidade acabei encontrando umas granolas, mel, leite em pó, farinha láctea e deu para fazer aquela mistura e enganar a fome até o dia seguinte, rs.
Agradecimentos a Leandro pela boa companhia e ótimo suporte em Parnaíba e em Cana Brava, agradeço também ao Sr. Alfredo e família pelo apoio.
Ah, não esquece de deixar o seu comentário é muito interessante saber sua opinião.
O que mais me chamou a atenção foi o manguezal morto. Alguém comentou contigo o que provocou essa mortandade?
Apesar de tudo é bonito. Melancólico mas belo.
No mais, as crianças lendo o livro [acho que é daí que conheço o Argus] renderam fotos massa.
E essa de se integrar à paisagem e às pessoas deve ser fantástico, mesmo.
Na torcida.
Flausino, Lucio
Salve salve Lúcio,
Segundo alguns pescadores o mague foi morto pela ação do mar mesmo, foi o que falaram, mas acredito que pela região ter muito movimento de areia deve ter soterrado também e impedindo a retirada de nutriente do solo, a matéria inorganica, que é a condição básica para o mangue existir, mas isso você já deve saber! hahahahaha quem é que estou querendo ensinar quem aqui! =)