Alcântara, outro Mergulho na História Colonial

Category : Diário

20/04/2010 – Terça feira, partida de São Luis, a melhor rota para seguir para Belém é através da pequena cidade de Alcântara, é preciso pegar um barco de 3 horas de viagem que custa R$ 20,00, como era de ser esperar, mais uma vez tentaram me cobrar o transporte da Carmélia, negociação e tudo limpo, pude economizar alguns trocados. A viagem é legal, da para ter uma bela vista da cidade de São Luis e passa bem rápido com sorte você conseguirá ver também alguns botos nadando no rio.

A cidade de Alcântara foi refúgio de muitos escravos quilombolas, cidade histórica, faz parte do roteiro turístico de São Luis – com arquitetura completamente colonial, casas geminadas com o tradicional desenho na fachada de janelas, portas e as cores dando a identidade de cada morador. Possui uma praça central que abriga a bela ruína de uma igreja “Erguida antes de 1648 no local onde já havia existido uma capela construída pelo índio Maretin e uma igreja em homenagem a São Bartolomeu. Na virada do séc. XIX para o séc. XX já estava em ruínas e ameaçava desabar. Parte da igreja teria sido derrubada por ordem do escritor Sousândrade, que morava num casarão na praça e tinha sua vista da pasaigem atrapalhada pela torre.” (fonte: www.cidadeshistoricas.art.br data: 13/07/2010)



“Muitas são as causas apontadas para o declínio econômico em que Alcântara mergulhou no final do séc. XIX, para nunca mais se recuperar: abolição da escravatura, evolução de técnicas agrícolas, exploração excessiva do solo, recuperação do cultivo de algodão nos EUA após a Guerra de Secessão, fim da Companhia Geral de Comércio, lutas pela Indepêndencia do Brasil, maior facilidade no transporte da produção de outras áreas do país. Em 1896 a população se reduz a 4.000 habitantes, a Igreja Matriz está fechada e as plantações de algodão quase não existem mais.

As áreas das fazendas foram ocupadas pelos ex-escravos, que deram origem a muitos povoados ainda hoje existentes. O patrimônio histórico da cidade sofreu inúmeras baixas, desde o roubo de peças das casas por colecionares e moradores até confisco de peças da igreja pelo governo federal em 1889. Estes saques, aliados a um total descaso pelas construções, significaram a decadência definitiva para a memória de Alcântara.
O conjunto de sobrados que sobreviveram ao descaso e ao tempo, alguns com paredes de pedra e cal e ainda com fachadas revestidas por azulejos portugueses, foram tombadas pelo Iphan em 1948 como Patrimônio Nacional.” (fonte: www.cidadeshistoricas.art.br data: 13/07/2010)


Depois de conhecer a pequena cidade aproveitei também para passar no correio para enviar para meus pais uns postais que havia comprado, Argus também tinha que enviar uns documentos para sua casa. Após isso, seguimos para o almoço, já passara do meio dia, soubemos que na saída da cidade há dois restaurantes. Lá conheci um garoto chamado Igor, acredito ser parente da senhora que tomava conta do restaurante, perguntamos quantos anos ele tinha – 5 anos – ele nos responde, mas era perceptível que ele era mais velho do que afirmava, Argus pede então para ele mostrar nas mãos sua idade, ele mostra os 10 dedos e vimos que ele não sabia contar até dez, mais uma vez a questão da educação, nem preciso comentar mais nada, fato é que é deprimente ver coisas desse tipo.

Descansados do almoço seguimos para a estrada, eu estava mal com tudo que tinha acontecido, pareceu mais uma convenção de coisas erradas, estava no lugar errado na hora errada talvez, vai saber. Ao menos estava saindo daquele lugar, era a única coisa que passava na cabeça, a estrada é boa e extremamente bonita, uma mata fechada, a Amazônia já vem dando as boas vindas, como também as belas ararinhas, gritando feito loucas e sobrevoando nossas cabeças, isso me deixa muito feliz, em ver esses animais soltos, livre e talvez longe de ameaças, essa região do maranhão parece ser bem reservada, poucas pessoas passam por aqui, percebe-se isso por alguns trechos em que a mata praticamente invade a pista tomando de volta o que era dela.


Depois de algumas horas de viagem percebo que não estou sozinho, um louva-a-deus estava em cima da minha bolsa de guidão, passeando, curtindo, ele é um inseto considerado sagrado na cultura chinesa e segundo algumas crenças significa sorte, não poderia ficar mais feliz com aquele sinal, eram bons ventos surgindo, batizo-o então de Quimbó, devido a região em que me encontrava.

Cada vez mais que vou entrando na região algumas vilas vão surgindo, com a tipologia construtiva das casas de barro e a população praticamente negra. Quando ouvi falar dos quilombolas eu não tinha imaginado que era tão contrastante, parece que estou em outro país. A recepção da comunidade é sempre alegre e recíproca aos nossos cumprimentos, quase sempre nas casas que estão com o som ligado ouve-se o reggae music, muito bacana, um trajeto surpreendente do Brasil, nunca imaginara que havia um lugar assim.

As horas vão se passando e o dia chegando ao fim, era hora de começar a procurar algum lugar para passar a noite, em uma vila perguntamos qual era a cidade mais próxima e que tinha uma pousada, a informação era de que ficava a uns 40 km não conseguiríamos chegar lá antes do anoitecer, contudo seguimos adiante, pouco mais a frente em um trevo encontramos uma escolinha municipal, nem sempre é possível ser hospedado porque precisa da autorização do diretor, porém para nossa alegria a diretora estava morando na escolinha e trabalhando para que começasse a funcionar.


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