Bela Belém

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Estupefato inicialmente pelas dimensões de Belém, fiquei ainda mais encantado quando fui adentrando na história e cultura da cidade. “Fundada em 12 de janeiro de 1616 pelo Capitão-mor Francisco Caldeira Castelo Branco, encarregado pela coroa portuguesa de conquistar, ocupar, explorar e proteger a foz do rio Amazonas contra os corsários holandeses e ingleses. Numa península habitada pelos índios Tupinambás, estrategicamente situada na margem direita da foz do rio Guamá, onde este rio deságua na baía do Guajará, foi erguido o Forte do Presépio, marco inicial da cidade. O Forte, em seguida, o colégio e a igreja dos Jesuítas formaram o núcleo original da cidade que, posteriormente, seria denominada de Santa Maria de Belém do Grão-Pará.” (fonte: http://www.achetudoeregiao.com.br/ data: 08/09/2010)

Arquitetura e História

Belém é um espetáculo de arquitetura colonial, com belos casarões, ruas largas e seus majestosos boulevards de mangueiras. Tudo isso fruto da época do ciclo da borracha… que mudou a aparência da cidade. “Os governantes e a elite queriam que Belém fosse cópia de Paris e Londres e reproduzisse esteticamente essas capitais”, diz o historiador Figueiredo. Ruas foram alargadas, surgiram grandes edifícios e Belém ganhou água encanada e luz elétrica. “Com a reforma urbana, hábitos tradicionais foram empurrados para o interior”, afirma.

“Viver em Belém no fim do século 19 era coisa chique. No porto da cidade, atracavam navios abarrotados de queijos franceses, vinhos portugueses, vestidos italianos e serviçais europeus – como as requisitadas costureiras belgas. A cultura fervilhava, com exposições e espetáculos de música lírica. Inspirada no luxo da Belle Époque (a “bela época” que marcou a economia e as artes da França antes da Primeira Guerra), a capital paraense orgulhava-se de apelidos como “Paris Tropical”.” (fonte: http://historia.abril.com.br/ data: 08/09/2010)

Andar pelo centro e bairros adjacentes é uma atividade de grande contemplação e revida do passado, por todos os lados estão os casarões antigos que remetem a história e potencial econômico da cidade, que foi moldada com a idéia de ser grande. Metrópole do norte do país, Belém encanta e não perde em nada para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, é tão majestosa quanto, e ainda por cima tem os belenenses, carismáticos, hospitaleiros e de sotaque Xxxiado com uso do pronome na segunda pessoa tais como “tu vais?” “tu fostes?”, herança da forte presença dos portugueses na cidade e a tentativa dos nativos copiar a forma como eles falavam, resultando o presente sotaque.



Comidas

Deixando a arquitetura de lado, a cidade de Belém é o paraíso da gastronomia frutívora, além de possuir todas as tradicionais, existe uma imensa variedade de frutas regionais da Amazônia, para um apaixonado como eu era um encanto provar cada fruta que encontrava, das mais estranhas aparências com sabor doce e exótico. Para completar e fazer jus a reputação, todas as frutas viram deliciosos sorvetes, um dos mais gostosos que já provei, destaque para o de açaí e tapioca, bom demais, sem mencionar os doces e trufas de cupuaçu, buriti, açaí e tantos outros.

Esses primeiros contatos nunca paravam, são muitas as coisas que Belém tem, ênfase também para a pizza paraense, que leva camarão e jambu, a mesma folha que é usada no tacacá, eu achei fantástica e não perdia a oportunidade de sempre comer uma outra vez, são muitas as variedades, ir ao Pará é brincar de conhecer todo dia uma coisa nova dentro do próprio Brasil.


Comportamento

Além de tudo isso, o belenense tem uma virtude da qual eu aprecio muito, é o valor à sua cultura e empresas locais, foi um dos únicos lugares do Brasil que encontrei esse tipo de comportamento, em Belém não existe nenhuma rede de supermercado ou shopping de fora, todos são redes do estado e os que já tentaram entrar no mercado não foram pra frente e fecharam as portas, acho que se nós brasileiros fossemos mais assim teríamos uma cultura ainda mais rica, muitas vezes esquecemos o que é nosso e supervalorizamos o que vem de fora, minha viagem pelo Brasil é cada vez mais apaixonante e a cada dia que vou conhecendo seus pequenos detalhes percebo sua enorme riqueza e o porque de ser tão valorizada no exterior.

Belém é uma cidade que definitivamente deve-se conhecer, ela consegue agregar uma riqueza arquitetônica, cultural e gastronômica gigantesca. Além disso, ala ainda consegue ter um toque de litoral mesmo sendo na maior parte em função de rios, possui praias próximas, a de algodoal e salinas, que infelizmente não conheci, portanto as propagandas de lá são as melhores e espero conhecê-las em outro momento.



Para finalizar gostaria de fechar com uma reflexão que é característica em todas as cidades brasileiras. Belém tende um crescimento desenfreado e insustentável, as políticas de transporte ainda estão muito mal desenvolvidas e nas regiões metropolitanas a qualidade é extremamente baixa, diferente da região central, possui poucas praças e árvores, as calçadas, mais uma vez, não oferecem condições de acessibilidade o que torna as coisas um tanto caóticas e prejudica diretamente na qualidade de vida da população.

Como toda grande cidade, Belém tem problemas sérios de congestionamentos e o mais impressionante é a diferença climática num passeio a pé pelo centro no final de semana e em um dia de útil de trabalho, o calor provocado pelos automóveis é gritante, devido as vias no centro possuir árvores com grandes copas acaba provocando uma estufa nas ruas, aumentando consideravelmente a temperatura ambiente. Eu sempre me pergunto, e provoco essa reflexão em vocês, para onde estamos crescendo, isso significa progresso, desenvolvimento? Não sei, mas percebo coisas erradas e a persistência no erro, a “masturbação” eleitoral está de volta, sempre fico triste nessa época, toda mudança transmite medo, mas é necessária, como o simples deixar o carro na garagem algumas vezes na semana.

Ilha de Marajó

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23/04/2010 – Sexta-feira dia da partida de Primavera, o plano era seguir até Salinópolis, conhecer uma das praias do estado do Pará, porém eu tinha combinado com o pessoal do EART – Equipe de Aventura Ratos de Trilha que iria com eles no sábado, dia 24, para Ilha de Marajó fazer uma trilha de bicicleta, era uma oportunidade para conhecer a maior ilha fluvial do mundo acompanhado de boas companhias. A viagem à praia de Salinas foi abortada, portanto tinha que pedalar até a cidade de Santa Luzia, na metade do caminho, o bom foi fazer esse trecho na boa companhia de Evandro e Lu, chegada a hora nos separamos e me despedi também de Argus, a viagem com sua companhia iria acabar nesse momento e cada um seguiria seu caminho.

Próximo a capital do Pará, nas cidades vizinhas, percebe-se inúmeros estabelecimentos comerciais na BR, cidades grande e de alto poder econômico. Em Belém essas dimensões são ainda maiores, ao contrário do que pensava, não imaginava que a cidade era tão grande, eu nunca tinha pisado na região norte do país, o que tornavam as impressões nada palpáveis. No ônibus eu estava com a cara na janela observando tudo que se passava, parecia mais aquelas pessoas que moram naqueles interiores brabo e nunca foram a cidade grande, essa viagem tem me proporcionado um conhecimento sobre o Brasil fascinante, como nosso país é rico e mal aproveitado.

Desço na rodoviária, ligo para Sérgio que iria me receber na cidade e sigo em direção a Top Bike Belém, lá já conheço um monte de gente boa, Marquinhos, Suzanne, Carol, João o próprio Sérgio e posteriormente Leon, são a família Top Bike que me aturaram por um tempão e me deram muito apoio só não queriam me deixar ir embora, disseram que o mundo acabava em Belém e que eu deveria ficar por lá mesmo, rs. Dica: se for a Belém, não deixe de ir a Top Bike loja de alto nível de qualidade, difícil de se encontrar na região norte, ainda mais com o ótimo padrão de atendimento.

Da Top Bike fui para casa de Sérgio, foi lá que fiquei nos meus primeiros dias de Belém e onde também tive uma segunda mãe irmã e irmão, dona Cidália, Cidalinha e Gabriel, foram outras pessoas importantes na minha estada na capital do Pará e que significam muito para um cicloturista, pois ficamos muito tempo longe de casa, do conforto dos pais e do lar.

 
  
 

No dia seguinte era o dia da Trilha do Marajó, estava bastante ansioso, pegamos a balsa em Icoracir, distrito de Belém, custa R$ 21,00 e leva 4:00h de viagem, existe também a opção de pegar um barco no porto, próximo ao centro da cidade e a viagem é um pouco mais rápida.

A viagem foi de muita conversa e um tanto desconfortável, pois não oferece qualidade no serviço, fiquei em pé praticamente toda a viagem até o momento em que decidi deitar no chão mesmo para poder descansar. Na ilha uma galera já estava por lá, éramos algo em torno de 50 pessoas, foi emocionante, o Fábio Talui, pessoa que intermediou todo o contato com a galera até mencionou a minha presença como se fosse especial, rs, fiquei bastante lisonjeado e um tanto sem graça, na minha cabeça as vezes não cai a ficha de que eu estou pretendendo dar uma volta no mundo de bicicleta.

  
 
 

A trilha na ilha foi muito bacana, com belas paisagens, comunidade simples e muito simpática. Conheci a ilha por um ponto de vista completamente diferente, passeando por dentro de fazendas, percorrendo caminhos por dentro da mata, pedalando pela praia e conhecendo pessoas incríveis, definitivamente entrei com pé direito no Pará. Marajó é também famosa pelos búfalos, é impressionante, estão por todos os lados, andando no meio da estrada, no mato, puxando carroça e até a guarda municipal “cavalga” búfalos, preferiria que fossem bicicletas, mas tudo bem, espero que um dia dê-se uma folga para eles.

 

No final da trilha fomos ao hotel para a confraternização, tomar banho de piscina, bater papo, jantar e assistir a belíssima apresentação de Carimbó, dança típica do estado do Pará, da qual os paraenses têm muito orgulho. Para minha sorte os melhores grupos estão na ilha de Marajó e eu pude assisti-la como também pagar mico, no momento que abriram para as pessoas participarem da dança me empurraram para a pista, sem nunca na minha vida ter visto ou aprendido a dançar, parecia um gringo, tudo culpa de Gustavo, rs.


 

Deixo aqui eternos agradecimentos a Talui, Sérgio, Ivan, Carlinhos, Gustavo, Gabi, Romero, Jose, Edson, Marcos, Débora, Andréia, Dulce, Mariana, Marina, Guilherme, Aninha, Paulinha, Nilton, Roni, Marta, Eduardo, Itana, Tisga, a todos que também participam dos movimentos do EART e peço mil desculpas por esquecer o nome de alguns, são muitos os nomes e é muito difícil lembrar depois.

Da Terra do Reggae à do Techno Brega – Vídeo

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21/04/2010 – Olá amigos, informo minha chego a Boa Vista – RR, após 780km de pedaladas pela Amazônia com muitas ladeiras, travessia de uma reserva indígena, dores no joelho, a primeira queda da viagem muito calor e chuva, apesar das dificuldades foi fantástico e muito gratificante toda a viagem.

Retomo as atualizações e publico mais um novo vídeo da viagem, este se trata do trecho de São Luis a Belém, o vídeo diário referente aos relatos anteriores. Uma viagem emocionante explorando uma cultura completamente diferente para mim, a dos escravos quilombolas que fugiram de São Luis. Além disso, piso pela primeira vez no estado Norte do país, o estado do Pará, região de pessoas hospitaleiras de rica cultura.

Na Estrada #1

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Caros seguidores, o site entrará em pausa agora pelos próximos 10 dias. Nesta segunda-feira, dia 19 de julho, sigo em direção a Boa Vista. Serão aproximadamente 740km pedalando pela Floresta Amazônica com transição para o cerrado nas proximidades do estado de Roraima.


Teatro Amazonas

Saindo de Manaus farei uma parada em Presidente Figueiredo para conhecer as famosas cachoeiras e trilhas da região, a Pousada Nossa Casa irá me receber por lá. Após esses dias sigo em direção ao portão de entrada da reserva Waimiri-Atroari, onde é proibida a circulação pela noite. O terceiro dia inteiro será cruzando toda a reserva, por volta de 126km, dentro dela tem a divisa do estado do Amazonas e Roraima, a parada será em Jundiá. No quarto dia cruzarei a linha do equador, entrando no hemisfério norte pela primeira vez, tentarei chegar até Rorainópolis, uma pedalada puxada de 160km. Quinto dia tentarei chegar o mais próximo da cidade de Caracaraí uma distância de aproximados 155km. Sexto dia pararei em Mucajaí e a depender da animação posso esticar para Boa Vista, mas pretendo fazer esse roteiro em 7 dias para não forçar demais.

Dessa vez a preparação está bem maior no quesito alimento, me preparei bastante e carrego um pouco mais de peso por conta disso, nada que atrapalhe demais. O meu único medo é que minha suspensão não agüente a viagem, ela está com problemas e é a maior preocupação.

Aguarde que em breve terá atualizações com os relatos de Belém, com as trilhas que fiz no Pará com o pessoal da EART e loja Top Bike Belém, tem também a viagem e os dias que passei em Santarém, Alter do Chão e Belterra, Manaus e esta viagem pela Amazônia.

Bem Vindo ao Pará

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21/04/2010 – Dormir na escola foi tudo de bom, deu pra tomar banho de “tcheco” ou também conhecido como banho de cuia e ainda com direito a jantar e café da manhã, perfeito, melhor que isso não poderia ser – como forma de agradecimento fizemos uma doação à escola para ajudar nas despesas, fico na torcida para que as aulas voltem logo e as crianças a estudarem.

O planejamento do roteiro de hoje é chegar até Santa Helena, uma cidade ainda no estado Maranhão e mais desenvolvida que as demais, ir na rodoviária e pegar um ônibus até a Capanema, isso porque a partir de São Luis começam as chamadas entranhas maranhenses, com a presença de vários rios desaguando no mar, isso impede a existência de estradas litorâneas, havendo somente a BR 316 que liga São Luis a Belém, conseqüentemente o movimento de caminhões é intenso, e para piorar a situação do ciclista, não existe acostamento. Roteiros como esse eu começo a abrir mão, pois são regiões vetores de crescimento com devastação da floresta e não possui nenhum atrativo, não vale a pena correr o risco, e ainda ficar sujeito a poluição, barulho e stress da atenção no movimento de automóveis, fica a dica para você que pretende fazer uma cicloviagem.

Antes chegar a Santa Helena paramos na cidade Pinheiros, a 60km de onde dormimos, lá possui rodoviária e então decidimos ficar por lá. É muito legal passar por essas cidades do interior e ver a simplicidade da comunidade, ver as pessoas sentadas na porta de suas casas, passando o tempo, conversando, as crianças jogando bola na rua, mesmo debaixo de uma chuva que caia ao final de tarde – na cidade grande só é visto esse comportamento na periferia ou em bairros com uma população de maior faixa etária. Nas áreas mais centrais existe uma exclusão dos espaços públicos, as mães não deixam seus filhos brincar nas ruas, os automóveis na maioria das vezes são os vilões, pelo risco de acidentes. Aliado a esse fato entra a falta de investimento em praças, bosques e parques que provoca um aumento da procura pelos espaços privados, como shoppings.

Manhã do dia seguinte, as 8:00h saía o ônibus para Capanema, entrando no Pará, na região Norte do país e se despedindo do Nordeste. Na hora do embarque tivemos o maior problema para despachar as bicicletas, o funcionário da empresa causou a maior confusão dizendo que tínhamos que pagar, Argus tinha um cartão da federação de ciclismo de São Paulo que falava que o transporte de bicicleta não pode ser cobrado, como eu não tinha tal cartão, o carinha mudou o discurso e disse que eu tinha que pagar, sei que enchemos o saco dele e não pagamos – o ônibus era uma lata velha, sem ar condicionado e bancos velhos. A viagem durou em torno de 5 horas, no maior calor.

Assim que chegamos em Capanema – PA pedalamos em direção a cidade de Primavera, no site de Argus possui um espaço para cadastramento de escolas, um rapaz chamado Evandro, que conhecia seu projeto, havia cadastrado a escola em qual trabalha, portanto seguimos juntos até lá para fazer a atividade. O paraense é muito receptivo, de uma hospitalidade tamanha, já foi possível perceber logo em Capanema, muitas pessoas se aproximaram de nós para conversar e outros nos carros andavam devagar para fazer as clássicas perguntas foi muito bom sentir essa recepção.

O estado de Pará já predomina a floresta amazônica, portanto essa região o desmatamento é muito grande e desde a fronteira já percebe a predominância da madeira, principalmente nas construções, a tipologia construtiva das casas são na maioria com essa matéria prima. É comum ver madeireiras na beira da estrada, e praticamente todas as cidades possuem esse tipo de construção, ou seja, devastação total e como era de se esperar a pedalada não teria paisagem alguma. O mais interessante é que muitas dessas áreas desmatadas são utilizadas pela desculpa da pecuária, mas ao olhar o numero de animais no pasto é irrelevante, tudo não se passa de pretexto para derrubar as árvores e vender a madeira.

Chegamos em Primavera e fomos direto para escolinha, estávamos 30 min atrasados, mas felizmente conseguimos chegar a tempo, antes da saída das crianças, foi mais uma sensação indescritível, eram inúmeras crianças, curiosas, vendo aqueles dois malucos ou até mesmo, na cabeça deles, dois super heróis de bicicleta, ao final da atividade tirando foto com todos, um garotinho chega do meu lado e pede um autógrafo, aquilo foi uma surpresa pra mim, até então eu não tinha idéia que o significado para eles era tão grande, ao ponto de pedir uma assinatura minha, um pobre mortal que tem o sonho de dar a volta no mundo de bicicleta, e depois dele todos queriam autógrafos, foram alguns minutos escrevendo mensagens para a criançada, recepção melhor que essa impossível, foi ótimo, o sinal que Quimbó, meu mascote louva-a-deus trouxe se tornara realidade e mais fantástico é que ele ainda estava comigo já era o terceiro dia me acompanhando.